La Cama, novo filme da diretora argentina Mónica Lairana, com uma coprodução entre Argentina, Alemanha, Brasil e Holanda, chegou aos cinemas brasileiros essa semana, distribuído no Brasil pela Livres Filmes.
O primeiro longa metragem da diretora, percorreu diversos festivais, ganhando os prêmio de Melhor Diretora Argentina e Melhor Atriz Argentina (Sandra Sandrini) no Mar Del Plata International Film Festival. No Brasil, “La Cama” participou do Festival Do Rio e também do Festival Juiz De Fora.
Mostrando um processo difícil, dramático, temível e de redescobertas, a cineasta aborda a história intimista de Jorge (Alejo Mango) e Mabel (Sandra Sandrini), um casal que decide se divorciar após 30 anos de casamento. A casa onde passaram uma vida juntos será vendida e eles passam 24 horas horas debaixo do mesmo teto, tendo que vivenciar a nostalgia, cumplicidade e a sexualidade remanescente desta relação, enquanto esvaziam um baú de memórias afetivas.
Confira o trailer:
“Por detrás do drama sentimental, lidamos também com outras subjetividades: o medo de envelhecer, o medo da solidão, o declínio do corpo, a nudez.”, declara a diretora e roteirista Mónica Lairana, que passou alguns dias no Rio de Janeiro para a estreia de seu filme. E a convite da Primeiro Plano, o Cinestera teve a oportunidade de entrevistar a talentosa diretora.
Confira a entrevista completa:
Cinestera | Você já dirigiu muitos curtas metragens, alguns deles premiados, e tem uma grande filmografia como atriz. Como foi a experiencia de dirigir seu primeiro longa-metragem, com um tema tão intimista?
Mónica Lairana | Foi intensa, com muito trabalho, além de dirigir eu decide escrever o roteiro e produzir. Foi uma etapa de muito aprendizado para mim, ao longo das filmagens aprendi em detalhes todo o funcionamento de um filme, desde a produção, o financiamento, até a finalização.
Cinestera | De onde surgiu a ideia do filme, você se baseou em algum trabalho já feito, ou alguma acontecimento vivenciado?
Mónica Lairana | A ideia do filme surgiu a partir da minha experiência pessoal, eu me separei depois de muitos anos, e para mim foi muito mobilizante, quando eu me separei, experimentei uma dor que nunca senti antes. A partir disso, vi a necessidade de fazer esse filme, foi um momento tão forte para mim, e nesse momento eu pensava se para mim, depois de 8 anos, quando me separei, foi difícil, imagina para uma pessoa que se separa depois de 30/40 anos. O filme se baseia nessas duas coisas, na minha experiência pessoal e na ideia de indagar a complexidade de um casal, que passou toda a vida juntos, se separar depois de tantos anos.
Cinestera | O filme tem muitas cenas de nudez. E os atores, Sandra Sandrini (Mabel) e Alejo Mango (Jorge), passam por momentos muitos íntimos. Como foi o processo de filmagem?
Mónica Lairana | A verdade é que foi muito sensível, por varias razões. Em primeiro lugar, conversamos muito com os atores a respeito da importância e a relação do motivo de ficariam completamente nus. Conversamos profundamente sobre que tipo de poética, que tipo de verdade, eu me interessava em encontrar no filme. A partir disso, depois de uma conversa prévia, eles se juntaram ao projeto, com uma convicção tão forte quanto a minha. Para mim, era muito importante revindicar essa vigência que botamos em nossa corpo, eu sinto que culturalmente nós estamos embasados com a ideia de que só o corpo jovem tem direito a ser visto. Isso por um lado foi muito importante, e por outro, conversamos também sobre a naturalidade do corpo. E depois, também discutimos a ideia do ator ter o corpo como uma grande ferramente de trabalho, logo, queria dar o valor natural do corpo, quando filmamos as cenas, para a gente foi como filmássemos qualquer outra cena de um filme. A gente não teve essa coisa de set, onde pedimos para todos saírem para gravar, era pra ser natural, normal. Isso para mim foi muito essencial, para que conseguíssemos essa intimidade e confiança apresentada.
Cinestera | E a escolha dos atores?
Mónica Lairana | Eu busquei atores não tão conhecidos. E a primeira coisa que busquei foi uma foto, quando me juntei com Sandra, tomamos um café, e já me dei conta que ela teria que ser a atriz do filme. Depois fizemos uma pequena prova, com os dois, mas na verdade em ambos os casos, eles tinham que conversar com aquilo que eu acreditava. E, em nenhum momento da prova, geramos esse sentimento de “casting”, queria que eles mostrassem a capacidade de atuar, se tratava de ver se podíamos trabalhar juntos, se nos sentíssemos cômodos. Então, a prova foi muito tranquila, os dois são maravilhosos, são atores muitos sensíveis, também tivemos um treinamento físico prévio, para que eles se familiarizassem com os corpos, e se sentissem a vontade. Trabalhamos buscando atuações sensíveis, que fossem mais naturais possíveis, que eles não tivessem medo de agir durante as filmagens, queria respeitar o tempo das nossas ações como na vida real.
Cinestera | E teve alguma cena com uma complexabilidade maior de ser gravada?
Mónica Lairana | Não sei se teve uma cena mais difícil, todas surgiram com sua pequena complexabilidade. Na verdade, as cenas da película são muito sensível e simples, mas dentro dessa simplicidade, havia um trajeto que devíamos cumprir, a gente estabeleceu como por em cena, um caminho emocional, e certas coreografias de andamento para os atores. Mas com sorte tivemos um trabalho muito tranquilo, tendo a possibilidade de repetir a gravação de algumas cenas.
Cinestera | O filme se passa em uma casa, que possui diversos objetos antigos e velhos, que representam as memórias do casal. Essa foi sua intenção na construção do cenário, ter a casa como uma metáfora para o relacionamento do casal?
Mónica Lairana | Em algum ponto sim, eu sinto que a casa reflete o que os atores não podiam passar, que era renovar essa relação, continuamente, para não chegar no lugar que chegaram. Acho que os objetos tinham essa intenção, de mostrar essa não renovação, mostrar um relacionamento que está morto e quieto, e assim, como não podiam renovar a casa, os objetos, não podiam se renovar. Desde o início do filme, buscava que a casa fosse o elemento mais importante, os objetos também me serviam para, narrar um passado comum, os momento juntos do casal, eu não queria que o telespectador visse como informação irrelevante.
Cinestera | O filme tem poucas falas, tornando-se uma obra muito expositiva e subjetiva. Você teve alguma intenção ou mensagem que quis passar para o público?
Mónica Lairana | Não sei se tem uma mensagem, creio que tem uma intenção, a minha intenção sempre foi que a partir do filme, a gente reflita a cerca do valor que damos as relações humanas. Minha intenção também foi abordar o porque de nós fragilizarmos tanto em algumas relações, que são tão líquidas, tão voláteis. E com isso, que a gente aprenda a construir relações mais sólidas e verdadeiras. Eu creio que á algo com a velocidade que estamos vivendo, não nós relacionamos com profundidade, não só em relações de matrimônios, como também, as de amizade, e familiares.