Cinebiografias são sempre um desafio para se fazer, pois a pressão externa, pode acabar deixando o filme superficial, não fazendo jus a história contada. Judy, de Rupert Goold, que estava fora das telas desde seu último filme Rei Charles III, infelizmente sofre dessa superficialidade. Entretanto, a atuação de Renée Zellweger consegue hipnotizar o público, fazendo com que o mesmo saia da sala do cinema achando que assistiu um belo filme. Judy podia ser uma das grandes cinebiografias desse ano, mas seu medo por retratar a íntima e violenta história de Judy Garland, foge totalmente da corrida para o estrelato.
Judy: Muito Além do Arco-Íris (Judy) irá acompanhar os últimos anos da lenda Judy Garland. 30 anos depois que foi “capturada” como estrela global para o filme O Feiticeiro de Oz, a estrela por trás da eterna música “Over The Rainbow“, está cansada e assombrada por memórias de uma rígida infância perdida para Hollywood. O filme vai fazer um corte da vida de Judy, mostrando o momento em que a cantora passa por uma grave crise financeira e tenta reconstruir sua fama, com uma tour decisiva em Londres, no Swinging London, para se apresentar no The Talk of the Town.
Harvey Weinstein e Kevin Spacey, esses são dois nomes que servem para nos lembrar do lado sujo e abusador de Hollywood. Com isso, Judy tinha um “grande” dever e importância de mostrar o trágico abuso que a atriz vivenciou com Louis B. Mayer, o célebre produtor e co-fundador dos estúdios Metro-Goldwyn-Mayer. Entretanto, Judy: Muito Além do Arco-Íris (Judy) deixa essa importância de lado, e trata, com superficialidade a triste infância da atriz, que passou por graves abusos tantos psicológicos e físicos, como por exemplo, ter que tomar comprimidos para emagrecer e não poder comer certos lanches. O ponto aqui é que o filme não traz tanta veracidade e omite alguns abusos, para quem conhece a história de Garland, pode ser uma grande decepção.
Eu preciso deixar registrada aqui a minha inquietação com as cenas finais. Depois de fechar o filme com uma das cenas mais belas, da Judy sendo ovacionada pelo público cantando “Over The Rainbow“, o epílogo finaliza vergonhosamente o filme, sem mais explicações sobre o fim da vida de Judy.
Judy é um filme com enredo fechado, sem deixar pontas soltas, ou exagerar em certas cenas. Mas, isso acaba sendo um ponto negativo para o filme, que muitas das vezes parece ficar empacado em certas tramas, tendo o potencial de introduzir e mostrar outros pontos da vida da estrela. Desse modo, tive a sensação de já ter viso aquela história ou algumas cenas específicas, talvez seja por causa das diversas cinebiografias que tivemos esse ano – Bohemian Rhapsody e Rocketman.
Contudo, Judy não deixa de ser uma cinebiografia que vale a pena ser assistida. Rupert Goold fez um tiro certeiro em escolher Renée Zellweger para viver Judy. Zellweger realiza um de seus trabalhos mais belos, trazendo um retrato comovente e cativante de Garland, com seus trejeitos, medos e traumas expostos lindamente na tela do cinema. Renée já está indicada na categoria de Melhor Atriz no Globo de Ouro, Critics Choice Awrds, o SAG, entre outras diversas premiações, e está trilhando lindamente seu caminho ao Oscar 2020.
Para quem não conhece a trajetória de Judy por completo, o filme cumpre seu dever de retratar uma pequena parte de sua história, em tempos que abusadores estão sendo desmascarados. Apesar de ter seus pontos negativos, o projeto de Rupert Goold consegue trazer um melodrama interessante de ser visto, muito pela atuação de Renée, e pela direção de Goold, do que pela história mostrada.