sexta-feira, maio 10, 2024
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[Entrevista] Diretor Lee Cronin de ‘A Morte do Demônio: A Ascensão’ diz que personagens do filme são baseados na sua família

A franquia de terror “A Morte do Demônio” completa 40 anos no dia 15 de abril e, para marcar essa ocasião, o diretor e escritor Lee Cronin nos concedeu essa entrevista sobre o novo filme “A Morte do Demônio: A Ascensão“, que estreia nos cinemas em 20 de abril.

Cronin compartilhou suas experiências com o gênero do terror, incluindo seus principais pontos de referência, falou sobre como acabou dirigindo o novo capítulo da franquia, e claro comentou sobre os pontos de ruptura da história desse novo filme.

Diretor Lee Cronin/Warner Bros.

Questionado sobre o papel do horror como reflexo dos nossos males o Cronin respondeu que o horror sempre teve a capacidade de ser esse reflexo, mas atualmente, o gênero está saindo de um lugar mais existencialista e indo para um espaço mais divertido e experimental.

“Acho que o terror, de várias maneiras, sempre teve esse poder. Sinto que estamos saindo de um lugar um pouco mais existencial. Como também fiz com THE HOLE IN THE GROUND. Isso trás uma análise psicológica mais profunda, mais existencial.”

Contudo, ele enfatizou que essa mudança não diminui o poder do horror em nos fazer refletir sobre os males do nosso mundo. “Uma das coisas que amo em A Morte do Demônio – do ponto de vista de um espectador casual de cinema, que não olha profundamente para o gênero – é a diferença entre os Deadites e os zumbis, os Deadites podem falar e insultar, o que é uma ferramenta muito, mais muito poderosa.”

Em última análise, o diretor acredita que o horror sempre estará lá para nos mostrar um espelho das nossas vidas, seja de forma direta ou indireta.“Lembro-me de falar com Sam Raimi e dizer: “Minha coisa favorita é a guerra psicológica que está acontecendo”. Eu realmente adoro esse aspecto do filme.” 

O cineasta ainda contou sobre sua experiência em dirigir esse novo capítulo dessa famosa franquia do terror, e como esse convite surgiu.

“Eu estava participando do festival[Sundance em 2019, para a estreia do seu primeiro longa THE HOLE IN THE GROUND], e ouvi alguns executivos falando que o Sam Raimi, tinha assistido meu filme e que ele queria me encontrar. Sou um grande fã dele e de seu trabalho, então fiquei bastante intrigado e animado para conhecê-lo e conversar.”e respondendo empolgado, Cronin consecutivamente teve algumas reuniões e aceitou o convite para dirigir essa nova história.

Outra pergunta que o diretor respondeu foi sobre sua abordagem para este capítulo da franquia. Cronin explicou que, para ele, o mais importante era criar uma conexão entre nós e os personagens, e por isso ele se inspirou em uma temática familiar.

Ele mencionou que ficou lisonjeado com as pessoas pedindo a opinião dele para a temática desse novo filme e ele também resultou que adorou ter a liberdade de criar personagens relacionáveis “eu sabia que, independentemente da maneira como abordasse, precisava contar uma história que pudesse encontrar alguma conectividade com os personagens. Acho que esse é sempre o caminho – trata-se de pessoas. Eu gosto bastante de escrever sobre família. Sinto-me bastante atraído pelo horror das circunstâncias domésticas.”

Para Cronin, todos têm uma versão de lar ou já experimentaram a familiaridade do ambiente. “Eu adoro os filmes [anteriores] de A Morte do Demônio. Eles tem uma história tipo de O SEGREDO DA CABANA sobre um grupo de amigo encontrando problemas. Mas eu queria algo voltado para a família. Quero dizer, nem todo mundo passou um fim de semana em uma cabana na floresta. Mas todo mundo – de certa forma – uma uma casa”

A partir daí, ele explorou sua vivencia familiar para construir a dinâmica dos personagens do filme e criou um enredo que confronta a unidade familiar vs a entidade demoníaca. “Sou muito próximo da minha família, irmãos, sobrinhas e sobrinhos. Olhei um pouco para eles, mergulhei em suas personalidades e pensei sobre o contexto, as configurações, ambições das pessoas e seus pontos fortes e fracos. A partir daí, comecei a construir esta unidade familiar. Gostei da ideia de colocá-los contra a ferocidade e a natureza demoníaca dos Deadites”, segundo ele a história cresceu organicamente a partir dessas diferentes maneiras de olhar para as coisas, circunstâncias, pessoas e o poder do horror.

Ainda falando sobre família, durante a entrevista o Cronin rebuscou sua infância e explicou como ocorreu sua relação com o horror.

“Fui criado em uma casa cheia de adultos… e exposto a todos os tipos de filmes de terror desde muito jovem, e não só meus irmãos [gostavam] – mas meu pai também é um fã de terror.” Ele destacou que TUBARÃO foi o primeiro filme que o assustou. Isso o impactou profundamente, fazendo-o perceber que o cinema pode ter um poderoso efeito emocional no público. “fiquei assustado com… a cabeça de Ben Gardner saindo do casco do barco. Eu provavelmente tinha cinco ou seis anos. Eu estava tipo, “Oh, essas coisas que eu assisto, elas podem assustar você também.” Lembro-me de ter um impacto enorme. Acho que me lembro de ter medo até de ir ao banheiro, porque tinha água.” [essa referencia foi até utilizada no filme]

Apesar de gostar de diversos gêneros cinematográficos, Lee sempre teve uma queda pelo terror, sendo um grande fã de thrillers e comédias que também apresentam elementos do gênero. No entanto, ele reconhece que é difícil escapar de suas influências, já que alguns dos filmes que o marcaram profundamente foram aqueles que o assustaram em sua infância. Eu vi O ILUMINADO muito jovem, talvez com sete, oito anos. POLTERGEIST era um grande problema pra mim na época. A HORA DO PESADELO também estava na minha memória antes dos meus 10 anos. O mesmo com UMA NOITE ALUCINANTE e UMA NOITE ALUCINANTE II, que meu pai me mostrou em um VHS alugado uma noite.”

O tópico família é algo frequentemente abordado no filme, e o Lee destacou que muito da família dele está nos personagens de ‘A Morte do Demônio: A Ascensão’

“Eu era muito próximo da minha mãe e da minha irmã, então tive muita influência feminina enquanto crescia. Muitas vezes eu olhava para os sacrifícios que as mães às vezes fazem pelos filhos, ou olhava para minha irmã, ela tem três filhos. Eu estava bastante envolvido com esse aspecto das coisas.”

O diretor também revelou que não apenas seus familiares serviram de base para os personagens do filme. Porém ele mesmo é um espelho para algumas características da personagem Beth. “Tenho certeza que há um pouco de mim em Beth, porque ela é alguém que está na estrada tentando viver seus sonhos. Então ela está se perguntando se é hora de realmente criar raízes mais fortes e talvez desacelerar. Ela volta para casa para pedir conselhos à irmã e investigar o que é isso. Então, finalmente, a família é corrompida, então também está olhando para o lado sombrio disso.” Cronin ainda afirmou: Tenho um monte de sobrinhas e sobrinhos, mas não sou pai. Eu vivo com medo. Eu gosto da ideia de paternidade por um lado, mas não gosto por outro lado”.

O Cronin aproveitou a oportunidade para explorar os sentimentos e questionamentos sobre a paternidade e a ideia de criar raízes, na personagem Beth.

Questionado sobre a importância da família, o Cronin comentou “Precisamos de família. Também adoro que a família possa aumentar, mudar e ser coisas diferentes para pessoas diferentes. É uma família não tradicional no filme, e é uma família ainda menos tradicional no final. Mas, é aí que reside a esperança. Sempre tem que haver um pouco de esperança em uma história”.

Para Cronin, a esperança está na ideia de que, mesmo que a família mude, ela sempre encontra um jeito de se adaptar “se um dos pais falecer, se alguém for embora, seja lá o que for, acho que a família encontra um jeito. Essa é a esperança para mim na história.”, essa mensagem de esperança é o que ele quis transmitir em A Morte do Demônio: A Ascensão, uma história de horror que tem como pano de fundo a importância da família e das relações humanas.

Já que estamos chegando ao fim da entrevista o Lee falou das protagonistas femininas do filme, as irmãs Beth e Ellie.

Para ele, a história contada com essas duas personagens é muito interessante. Pois elas estão em posições diferentes e provavelmente querem experimentar um pouco da vida uma da outra. Acho que Beth tem essa coisinha em mente sobre raízes. Ela volta para casa para conversar com sua irmã, Ellie, que é uma pessoa que ama família. Mas sem dúvida sente a frustração de se encontrar agora como uma mãe solteira, muito capaz, mas ainda solteira com esses três filhos.”

Essa frustação que cada uma tem com sua vida é um ponto que o diretor ama nesse filme “Acho que muitas vezes na vida, a grama do outro nem sempre é verde. Mas acho que há algo em comum entre elas. Ambas têm um corações grandes. Mas, igualmente, acho que elas adorariam ter um gostinho da vida uma da outra apenas para ver se há algo do outro lado que eles queiram um pouco mais.”, logo depois de dizer isso ele destacou que essas personagens vão enfrentar algo muito atormentador que expõe o lado horrível da família.

Pegando o gancho dessa família estar quebrada. A última pergunta para o diretor foi sobre como o filme aborda temas importantes no roteiro

“Estamos conhecendo uma família que acabou de passar por uma crise – o pai saiu de casa. Então, estamos trazendo uma pessoa para esse mundo que está questionando se deseja ou não começar uma família. Suponho que isso nos permitiu lançar uma visão ou colocar um espelho sobre as funções da família e como a família pode operar nessas diferentes maneiras.” Além disso, curiosamente, a interconectividade entre a família e o lar é outro ponto frequentemente utilizado nas entrelinhas do filme:

“o lar é uma algo muito importante para mim. Vivemos em um mundo onde possuir uma casa e encontrar uma nova casa é muito difícil.”

Até o ambiente do filme em um apartamento, se tornou algo pra causar terror. “O mundo e a família estão sendo espremidos em caixas cada vez mais apertadas o tempo todo [uma referencia a morrar em apartamentos]. O que acontece se você já está sob pressão dentro dessa caixa e então um mal sério bate à sua porta?”, depois desse questionamento que deixou um dilema na minha cabeça, ele terminou dizendo “Este é um filme de terror, fora do habitual. É sobre experiência, um jogo divertido, sangrento, corajoso, pavoroso, todas essas grandes coisas. Entretanto você não pode contar uma grande história de terror sem enfiar os dedos em algumas metáforas que refletem um pouco da época em que vivemos. Acho isso importante. Eu acho que mesmo apenas pessoas que querem fazer a escolha de ter uma família agora se torna uma equação de custo/benefício. Não é algo simples. Eu via os Deadites como, suponho. Um rosto para os males que às vezes podem bater na porta de uma família quando já estão sob pressão.”

A Morte Do Demônio: A Ascensão” é um filme de terror que carrega resistência e metáforas importantes para os dias de hoje. Com certeza, o filme será um grande sucesso entre os fãs do gênero, e ele estreia em 20 de abril nos cinemas brasilerios.

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