Hollywood tem uma grande afeição pelo patriotismo, e parece que Adam McKay conseguiu a formula para apreciarmos, romanticamente, os heróis do nacionalismo estadunidense. Há quatro anos atrás, A Grande Aposta, de McKay, fez grande sucesso nas temporadas de premiações, retratando a crise de 2008, nas telas de forma envolvente e didática. E Vice não fica para trás, como um “documentário” ficcional cotado para ser indicado ao Oscar de Melhor Roteiro, Maquiagem, Ator, Filme e Montagem.
Vice expõe ao telespectador a história de Dick Cheney (Christian Bale), e sua caminhada na política americana. Cheney, conhecido por regimes que agradaram o conservadorismo dos sulistas, foi o líder da chamada “Guerra ao Terror”, campanha militar dos EUA contra terroristas, após o ataque de 11 de setembro. Eleito como Vice Presidente de George W. Bush (Sam Rockwell), Cheney também arquitetou a guerra do Iraque – mais especificamente na elaboração dos argumentos sobre uma conexão entre o regime de Saddam Hussein e a Al-Qaeda.
Christian Bale mostra mais uma vez seu poder de metamorfose na atuação, aqui o ator engordou quase vinte quilos para dar vida a Dick. A atuação de Bale está ótima, podendo render uma indicação ao Oscar de Melhor Ator, ao retratar o político americano. Provindo de uma expulsão da renomada faculdade de Yale, devido a brigas e bebidas, Cheney leva a vida trabalhando como eletricista e gastando suas economias nos bares, levando Lynne (Amy Adams), sua mulher, a duvidar de seu matrimônio. Amy também demonstra uma bela performance, ao lado de Bale, mesmo os dois não tendo muita química.
Após um brilhante discurso de Steve Carrel (Donald Rumsfeld), Dick se vê apaixonado pela vertente dos Republicamos, formando-se em ciências políticas, e começando sua jornada política ao conseguir um estágio no senado estadunidense. Em seguida, Cheney trabalha como assistente do assessor do presidente ao lado de Rumsfeld, sendo direcionando ao ápice do filme, onde vence como vice-presidente de Bush.
Filmes como Vice e A Grande Aposta, são feitos muitas das vezes, para apresentar uma história ou um acontecimento de forma didática, romântica e que, no caso de Vice, para humanizar uma pessoa. Com um pouco de dificuldade em certas narrativas, o diretor não consegue cativar o público com o personagem, a não ser na parte em que Dick tem que escolher entre apoiar sua filha ou seu amor pela politica. Alison Pill e Lily Rabe, vivem as filhas de Dick e Lynne, servem como alívio romantizador e sentimentalista do filme, exibindo o amor, ou não, de Cheney pela família.
O objetivo do filme é interessante, mas se perde na narrativa anacrônica, transitando entre o passado e o presente da história de forma confusa. As cenas, similares a A Grande Aposta, estão bem filmadas e com ângulos excelentes. Como dito no parágrafo acima, o filme se divaga ao tentar criar a conexão do público com o personagem, deixando o telespectador preso e interessado, apenas, nos acontecimentos da trama. O diretor, que também roteirizou, faz uso de bons alívios cômicos, trazendo uma brecha para a maçante história contada.
Vice, com suas duas horas e doze de filme, alcança o objetivo de passar algum ensinamento para quem assiste, apresentando boas explicações para os acontecimentos e para os termos incomuns. A biografia cinematográfica está diretamente ligada à cultura do país e à memória, nesse aspecto, o diretor é bem sucedido, retratando de boa forma a cultura e a política americana nas telas. A identificação do público com o personagem ou com algum aspecto da história, de tal maneira que seja impossível sair da sala sem carregar algum tipo de emoção, é uma característica forte da biografia no cinema, entretanto Dick e Lynne não conseguem atrair a fascinação das pessoas que assistem o filme, em parte, Christian Bale e Amy Adams entregam uma ótima performance, dignas de Oscar. Vice é um filme interessante, que apesar de alguns aspectos negativos, vale a ida ao cinema.