domingo, dezembro 22, 2024
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Crítica | Se a Rua Beale Falasse (2019)

O Oscar 2019 está cheio de diversidade entre os indicados, e uma delas é Se a Rua Beale Falasse, indicado a Melhor Atriz Coadjuvante (Regina King), Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Roteiro Adaptado. Barry Jenkins fez sucesso no ano passado com Moonlight, ganhador do Oscar de Melhor Filme, a trama segue Três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. No filme, Jenkins retrata o bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas na vida de Chiron. Em Se a Rua Beale Falasse, o diretor aborda questões análogas a Moonlight, como o racismo e o amor censurado. Mostrando um triste retrato da realidade racista ligada aos poderes do governo, resultando em um terrível impacto na vida dos afro-americanos. 

Baseado no romance de James Baldwin de mesmo nome, Se a Rua Beale Falasse acompanha o romance censurado entre Tish (Kiki Layne) e Fonny (Stephan James). Tish, uma jovem afro-americana, se vê desnorteada ao saber que está grávida de Funny, entretanto, o mesmo sofre uma acusação criminal injusta e de subtextos racistas, levando-o a prisão. Com o apoio de sua família, Tish luta para provar a inocência de seu marido antes do nascimento de seu filho. O filme que se passa depois da segregação racial, retrata o racismo, o fanatismo religioso e o mais importante no filme o amor. 

Em Moonlight o telespectador consegue se conectar aos protagonistas de forma rápida, e o diretor não deixa de mostrar seus detalhes em Se a Rua Beale Falasse, criando um filme ainda mais cativante, sendo impossível não se conectar aos personagens e a trama, trazendo o espectador ainda mais para perto da narrativa. 

Logo no início do filme nós somos situados sobre o significado da Rua Beale, com uma linda citação de James Baldwin, escritor do livro. Se a Rua Beale Falasse apresenta uma narrativa não cronológica entre passado e presente, mostrando como o casal foi se apaixonando e alguns acontecimentos importantes para a trama. Entre passado e presente, Jenkins traz flashbacks que conseguem envolver o leitor, mostrando o crescimento da cumplicidade e do amor entre o casal, ao longo das fases da vida. Com alguns diálogos um pouco artificiais, o longa não deixa de dar um soco no estômago de quem assiste.  

A fotografia, juntamente com os figurinos, submergem o telespectador na década de 60, tornando a experiencia muito mais sensível. Os personagens têm suas personalidades definidas, com a ajuda do figurino e os tons de cores usados nas cenas. Como em MoonlightBarry usa enquadramentos únicos, fechados no rosto dos atores, criando cenas contempláveis. Coroando a obra, a trilha sonora é destaque no filme, determinando cada momento pelo qual os personagens estão passando.  

Tais características do filme, o visual, a narrativa, a trilha sonora e os diálogos guiam o espectador de maneira sincera sem exagero nas sensações vivenciadas pelos personagens.  

Kiki Layne está incrivelmente única, transmite a natureza retraída e ao mesmo tempo, com seu olha penetrante, mostra sua fúria ao ver a injustiça que está acontecendo com seu marido. Stephan James também não deixa a desejar, transitando entre a fúria e o carinho por Tish, o ator entrega cenas e diálogos encantadores. A química do casal é impressionante os dois criam a dinâmica necessária para a empatia do público, que sente a dor e o amor que flui entra ambos. 

O elenco coadjuvante não fica de fora, Regina King demonstra a angústia de uma mãe, lutando até o fim pela felicidade de sua filha, em uma atuação que lhe redeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Colman Domingo e Teyonah Parris também estão ao lado de Layne, rendendo belas cenas entre a família. Mostrando que apesar da situação vivida por Tish, sua família estará lá para fazer o impossível pela jovem. A curta, mas precisa, presença de Bryan Tyree Henry é um dos momentos em que o diretor dá um tapa na cara do público. Bryan interpreta um amigo de Fonny, que também foi preso injustamente e ao contar sua triste experiência atrás das grades para o amigo, constrói um diálogo esplêndido.  

Se a Rua Beale Falasse mostra uma história de amor modificado por uma grande injustiça. Abordando o racismo e suas consequências, com esperança, beleza e assertividade. Jenkins apresenta um trabalho ainda melhor que Moonlight: Sob a Luz do Luar, lhe rendendo o Globo de Ouro de Melhor Filme Drama. Em Se a Rua Beale Falasse a crítica social tem o auxílio da poesia, da trilha sonora envolvente, e dos personagens cativantes. Com a pesada temática de racismo Barry Jenkins cria uma obra que conquista o telespectador, valendo a pena ser vista.  

Patrick Gonçalves
Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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