terça-feira, novembro 5, 2024
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Crítica | Roma (2018)

Os serviços de Streaming estão mostrando um crescimento potencial durante anos recentes. E a Netflix como uma líder entre os Streaming traz para o público um deleito visual criado pelo Alfonso Cuáron. Roma, que ganhou o prêmio de Melhor Filme no Critics Choice, e em várias outras premiações, mostra a invasão, de forma positiva, dos filmes feitos para Streaming nas premiações de Hollywood, levando o filme de Cuáron a ser indicado em 11 categorias no Oscar desse ano – Melhor filme, Melhor direção, Melhor atriz (Yalitza Aparicio), Melhor roteiro original, Melhor atriz coadjuvante (Marina De Tavira), Melhor direção de fotografia, Melhor filme estrangeiro, Melhor design de produção, Melhor edição de som e Melhor mixagem de som. 

Roma é uma autobiografia no mínimo diferente, visto que o diretor faz de Cléo a protagonista. Cuarón aparece representado apenas secundariamente como uma das quatro crianças da família. Cleo interpreta Liboria Rodríguez, a Libo, a verdadeira babá de Cuarón. O filme se passa na Cidade do México entre os anos de 1970 e 1971, e acompanha o esfacelamento de uma família tradicional e de classe média composta pela governanta da casa Sofia (Marina de Tavira), seu marido Antonio (Fernando Grediaga), seus quatro filhos e suas empregadas Cleo (Yalitza Aparicio) e Adela (Nancy García). O longa de Cuáron, lançado apenas para o serviço de Streaming da Netflix, traz um ótimo roteiro, um visual extremamente único e extraordinário e belas atuações de atrizes iniciantes. 

No começo do filme, com Alfonso mostrando as coisas banais da vida da família e sem muitos plots twists ou ganchos, o telespectador pode ficar um pouco afastado, porém o diretor logo expõe tensões forte, de forma sutil e inteligente. As diversas camadas do filme tratam do preconceito, das classes sociais, que pode lembrar Que Horas Elas Volta?, do ambiente político, e da forma como as mulheres eram, e infelizmente são, tratadas. O longa mostra a força das mulheres, que são colocadas em situações angustiantes durante todo filme, mas permanecem sendo o pilar da família. O relacionamento entre Cleo e Sofia retratam o relacionamento difícil das diversas empregadas do mundo inteiro com suas patroas e o preconceito estabelecido nesse ramo doméstico. 

Cuáron resolveu usar uma lente 65mm e contar sua história em preto e branco, só que usando o digital ao invés do analógico. Se você espera um filme cheio de cenas com cortes e ação, Roma não é assim, o diretor traz planos-sequências longos e movimentos de câmera, como se observasse as cenas, os travelings são usados para mostrar o andamento do filme, de forma imersiva, mas não invasiva. A cena final do filme, mostrando a salvação de Cleo e seu amor pelos filhos de Sofia, é de arrancar emoções agradáveis de qualquer um que assista o filme. 

O longa tem uma narrativa simples, que apresenta o cotidiano da família em um ritmo mais lento do que estamos acostumados, e com atuações de iniciantes, mas que são um espetáculo nas mãos de Cuáron. 

Yalitza Aparicio, indicada a Melhor Atriz no Oscar, interpreta Cleo, uma empregada sem muitas falas, mas que mostra seu poder com suas expressões. Cleo é apaixonada pelos filhos de Sofia, que retribuem seu amor através do carinho e da pequena, mas poderosa, palavra Eu Te Amo, ditas durante todo o filme. Em seu primeiro trabalho como atriz, Aparício entrega uma personagem introspectiva, mas tendo que lidar com o abandono do seu namorado e a agressividade do mesmo, apresenta uma bravura de uma garota calejada fisicamente, mas de alma verde.  

Sofia, interpretado pela Marina de Tavira, e indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, também é um dos pontos altos do filme. Com a partida de seu marido, e o esfacelamento de sua família, Sofia faz de tudo para mostrar sua capacidade de tomar conta da casa e de cuidar dos filhos. SofiaCleo passam por problemas “iguais” que ao final são vistos como obstáculos superados, criando uma família com mulheres poderosas no comando. 

Roma é uma obra prima de Alfonso Cuáron, que infelizmente não foi para os cinemas, possibilitando uma visão mais ampla do filme. Cuáron traz um dos melhores filmes de 2018 e da Netflix, com um visual único e deslumbrante, retrata problemas importantes presentes no mundo inteiro, e de sua própria vida. As atuações fazem jus as indicações e aos prêmios que já ganharam, a narrativa do longa é calma e com tensões sutis. E, por fim, Roma mostra a força e a capacidade resiliente das mulheres de forma artística e significativa. 

 

 

Patrick Gonçalves
Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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