sexta-feira, setembro 20, 2024
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Crítica | O anjo (2019)

O Anjo, de Luis Ortega, veio para mostrar como os filmes estrangeiros e independentes tem potencial e merecem mais importância. Selecionado para o Oscar 2019, e com produção de Pedro Almodóvar, o filme não podia dar errado. E não deu, com uma fotografia digna de um grande filme, atuações excelentes, e uma história interessante a se contar, O Anjo, expõe a inocência, a insanidade e a realidade vivida pelos seres humanos. 

O filme retrata a história real de Carlos Robledo Puch, assassino que matou 11 pessoas e ficou conhecido como “o anjo da morte” na década de 70 – Carlos ainda se encontra preso no país, sendo o encarcerado mais longo.  

No longa acompanhamos a juventude de Carlos (Lorenzo Ferro), que desde criança já mostra seu potencial de roubar as coisas, levando objetos furtados para casa e dizendo a mãe e ao pai que são emprestados. Vivendo uma vida de tremenda liberdade, em que ele mesmo dita suas próprias regras, Carlitos, resolve fazer amizade com Ramón (Chino Darín), seu colega de classe, que também experimenta uma vida rebelde. Carlos é convidado a ir à casa de Ramón, e acaba conhecendo a complicada e grotesca família de seu amigo, formada por seu pai José (Daniel Fanego), um ladrão profissional que já foi preso, e sua mãe Ana María (Mercedes Morán), que se vê atraída por Carlitos. Logo, o pai de Ramón vê potencial no menino, e planejam um assalto a uma loja de armamentos. Ramón e seu pai ficam surpresos com a audácia do menino, mas não deixam de aproveitar as habilidades de Carlos. 

O filme aborda uma característica muito interessante daquela época, onde já surgia o sensacionalismo pelos jornais. Ao longo da trama, Carlos nutre uma paixão quase platônica por Ramón, única pessoa capaz de domar a insanidade do jovem. No final a dupla ficou conhecida como Bonnie & Clyde – ou “Eva & Perón”, como eles mesmo dizem – e os jornais já usavam palavras bastante caricatas para descrever a homossexualidade.  

O roteiro de Sergio Olguín, do iniciante Rodolfo Palacios e do próprio Ortega é primoroso em mostrar a história de Carlos, retratando um jovem que corre atrás de seus princípios – a liberdade – de forma espontânea, o que o tira da classe de meros assassinos. A humanização de Carlitos é quase inevitável, pois o roteiro é colocado em uma narrativa que no final, faz o telespectador criar uma empatia por um personagem que, naturalmente, repudiamos. Claro, os fatos estão ali, como na cena em que Carlos atira acidentalmente em um senhor e não se comove, ou na cena em que ele atira em dois homens e acha que os mesmos ainda estão vivos, porém, parece que a narrativa fica em uma constante montanha russa entre romantizar o personagem e mostrar uma caricatura de um serial killer 

Lorenzo Ferro, iniciante no ramo, interpreta Carlos de forma experiente. O jovem ator expõe um adolescente que não consegue seguir regras, e com seu instinto de liberdade, transita entre a ambição, as consequências da vida criminosa e as descobertas de seu desejo sexual. O que mais me chamou a atenção na atuação de Lorenzo foi a espontaneidade colocada em tela e a personalidade que o ator constrói o personagem. Chino Darín dá vida ao Ramón, e sua química, mesmo que de forma distante, com seu parceiro é perfeita. Darín interpreta um jovem que se deixa levar pela ambição, e que luta contra sua personalidade.  

A fotografia, de Julian Apezteguia, juntamente com a direção de arte são deslumbrantes, e com uma produção de Almodóvar, não é de se surpreender. Os filtros, e a paleta de cores são uma reprodução autêntica e bela da época em que se passa. Já os enquadramentos são bem diferentes, mas de forma positiva, trazendo um tom artístico para o filme, como por exemplo, os close-ups usados, mostrando as expressões dos atores. A trilha sonora é envolvente e animada, e aqui, serve para acrescentar a personalidade do protagonista, Carlitos, que tem uma grande afeição pela música.  

A cena final do filme é totalmente desnecessária, servindo apenas para contar que Carlos chegou a fugir da prisão ou para mostra a ingenuidade a singularidade do personagem, eu, sinceramente, não entendi o objetivo da cena. Mas, o interessante aqui é percebermos a transição da ambição de Carlitos, na cena inicial, o jovem invade uma casa e coloca uma música na vitrola, enquanto dança e explora o lugar, levando alguns discos e uma moto, já no final do filme, vemos Carlos disparando uma grande sequência de tiros em um motorista de caminhão.  

O anjo, eterniza a história real do assassino Carlos Robledo, mostrando sua juventude de forma interessante, uma narrativa bem fechada e um tanto humilde, ao retratar um serial killer. Com produção de Pedro Almodóvar, o filme argentino se torna artístico, em virtude da intensa paleta de cores, dos enquadramentos e da direção artística. As atuações, principalmente da dupla principal, expõem de forma talentosa dois jovens que crescem em meio a ambição e a espontaneidade da adolescência, buscando, de forma desumana, a liberdade da vida. 

Patrick Gonçalves
Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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