domingo, dezembro 22, 2024
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Crítica | Nós (Us) (2019)

Nós traz a consagração de Jordan Peele no gênero do terror. Corra!, que levou Peele a ganhar um Oscar na categoria de Melhor Roteiro Original em 2018, mostrou o potencial do diretor, que trouxe um filme com narrativa baseada no medo, uma pitada de comédia e uma baita crítica social. Já em sua segunda direção, Jordan traz seu poder de modernizar o gênero, criando um terror assombroso, com espaço para o humor e para a crítica social, dessa vez, o diretor apresenta um filme que se firma bem mais como um filme do gênero do que seu antecessor.  

Em NósAdelaide (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) decidem levar a família para passar um fim de semana na praia e descansar em uma casa de veraneio. Eles viajam com os filhos e começam a aproveitar o ensolarado local, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo e a família se torna refém de seus próprios clones.  

Jordan Peele desenvolve sua própria linguagem cinematográfica, criando um terror metafórico, misturando os diversos subgêneros do horror. Partindo do subgênero home invasion (“invasão de casa”, em tradução livre), o diretor subverte a expectativa do público em vários métodos das montagens, frequentemente usadas em filmes de terror. A partir disso, Nós se conclui como um filme meramente interpretativo, e com uma crítica social, não tão visível quanto Corra!.

Assumindo sua própria linha criativa, o diretor mostra o seu domínio sobre a coordenação do filme. Aqui, Peele cria uma rima visual cheia de significados explícitos e implícitos, utilizando bastante o zoom-in e o zoom-out, dando tempo para público pensar sobre o filme ou chegar em algumas interpretações, nesse momento a comparação de Peele com Hitchcock são mais do que coerentes. A trilha sonora e a sincronia com as cenas mostram um cuidado extremo de Michael Abels, que utiliza desde músicas clássicas ao eletrizante rap. Já a fotografia de Mike Gioulakis, se completa com a montagem das cenas, criando momentos apreciativos.  

Com um tremendo desafio, de interpretar dois personagens totalmente opostos, o elenco é um dos pontos altos do filme. A Lupita Nyong’o consegue liderar as atuações, a atriz mostra duas personagens cheias de camadas, transitando entre o medo, o trauma de infância e a raiva, que a faz proteger a família. Winston Duke carrega a comicidade do filme em um personagem um pouco caricato, mas que serve de apoio para expor o machismo nas tradicionais famílias americanas. As crianças, Evan Alex e Madison Curry ajudam na construção da narrativa, expondo mais uma vez, o controle do diretor, já que crianças em filmes de terror não ajudam muito na trama. Shahadi Wright Joseph, que interpreta a personagem de Lupita na infância, não tem muitos momentos de fala, mas consegue atuar muito bem com as suas expressões de medo e curiosidade. Tim Heidecker e Elisabeth Moss estão sensacionais, interpretando a tradicional família americana, mesmo em poucos minutos de cena. 

Absolvido pela comédia em seus trabalhos, Peele consegue acrescentar o humor em Nós, de uma maneira excelente e direta. A comicidade do filme aparece em tom natural, usando a ironia na maior parte do tempo. A narrativa do filme não deixa escapar um detalhe dito pelos personagens, e junto com o roteiro cria toda a tensão de um bom script de terror psicológico. Por meio de algumas cenas expositivas, explicando toda a crença dos Reds (as copias), Jordan Peele cria uma mitologia incrível, que vale a pena ser assistida. 

Nós é intrigante e bizarro, demonstrando o potencial de Jorden Peele na indústria cinematográfica. O filme brinca com o público o tempo todo, quebrado diversos conceitos cinematográficos do gênero, a “mitologia” e a crítica apresentadas não são esmiuçadas, deixando a interpretação livre. A transição entre o medo e o humor fazem a direção de Peele se tornar única e bela. As atuações estão excelentes, e os atores conseguem entregar dois personagens totalmente diferentes e com trejeitos opostos.Por fim, Nóstraz a marca registrada de Peele, que continua explorando sua linguagem cinematográfica, de forma admirável.  

Patrick Gonçalves
Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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