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Crítica | Judy (2019) – Festival do Rio 2019

Cinebiografias são sempre um desafio para se fazer, pois a pressão externa, pode acabar deixando o filme superficial, não fazendo jus a história contada. Judy, de Rupert Goold, que estava fora das telas desde seu último filme Rei Charles III, infelizmente sofre dessa superficialidade. Entretanto, a atuação de Renée Zellweger consegue hipnotizar o público, fazendo com que o mesmo saia da sala do cinema achando que assistiu um belo filme. Judy podia ser uma das grandes cinebiografias desse ano, mas seu medo por retratar a íntima e violenta história de Judy Garland, foge totalmente da corrida para o estrelato.

Judy: Muito Além do Arco-Íris (Judy) irá acompanhar os últimos anos da lenda Judy Garland. 30 anos depois que foi “capturada” como estrela global para o filme O Feiticeiro de Oz, a estrela por trás da eterna música “Over The Rainbow“, está cansada e assombrada por memórias de uma rígida infância perdida para Hollywood. O filme vai fazer um corte da vida de Judy, mostrando o momento em que a cantora passa por uma grave crise financeira e tenta reconstruir sua fama, com uma tour decisiva em Londres, no Swinging London, para se apresentar no The Talk of the Town.

Harvey Weinstein Kevin Spacey, esses são dois nomes que servem para nos lembrar do lado sujo e abusador de Hollywood. Com isso, Judy tinha um “grande” dever e importância de mostrar o trágico abuso que a atriz vivenciou com Louis B. Mayer, o célebre produtor e co-fundador dos estúdios Metro-Goldwyn-Mayer. Entretanto, Judy: Muito Além do Arco-Íris (Judy) deixa essa importância de lado, e trata, com superficialidade a triste infância da atriz, que passou por graves abusos tantos psicológicos e físicos, como por exemplo, ter que tomar comprimidos para emagrecer e não poder comer certos lanches. O ponto aqui é que o filme não traz tanta veracidade e omite alguns abusos, para quem conhece a história de Garland, pode ser uma grande decepção.

Eu preciso deixar registrada aqui a minha inquietação com as cenas finais. Depois de fechar o filme com uma das cenas mais belas, da Judy sendo ovacionada pelo público cantando “Over The Rainbow“, o epílogo finaliza vergonhosamente o filme, sem mais explicações sobre o fim da vida de Judy.

Judy é um filme com enredo fechado, sem deixar pontas soltas, ou exagerar em certas cenas. Mas, isso acaba sendo um ponto negativo para o filme, que muitas das vezes parece ficar empacado em certas tramas, tendo o potencial de introduzir e mostrar outros pontos da vida da estrela. Desse modo, tive a sensação de já ter viso aquela história ou algumas cenas específicas, talvez seja por causa das diversas cinebiografias que tivemos esse ano – Bohemian Rhapsody e Rocketman.

Contudo, Judy não deixa de ser uma cinebiografia que vale a pena ser assistida. Rupert Goold fez um tiro certeiro em escolher Renée Zellweger para viver Judy. Zellweger realiza um de seus trabalhos mais belos, trazendo um retrato comovente e cativante de Garland, com seus trejeitos, medos e traumas expostos lindamente na tela do cinema. Renée já está indicada na categoria de Melhor Atriz no Globo de Ouro, Critics Choice Awrds, o SAG, entre outras diversas premiações, e está trilhando lindamente seu caminho ao Oscar 2020.

Para quem não conhece a trajetória de Judy por completo, o filme cumpre seu dever de retratar uma pequena parte de sua história, em tempos que abusadores estão sendo desmascarados. Apesar de ter seus pontos negativos, o projeto de Rupert Goold consegue trazer um melodrama interessante de ser visto, muito pela atuação de Renée, e pela direção de Goold, do que pela história mostrada.

Patrick Gonçalves
Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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