domingo, novembro 17, 2024
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Crítica | Green Book: O Guia (2019)

Com a segregação racial nos Estados Unidos, as pessoas “de cor” (como eram chamados os negros) eram excluídas de certos lugares, frequentados apenas por pessoas brancas. Dezenas de filmes, como Histórias Cruzadas, Estrelas além do Tempo e agora, Green Book – O Guia, mostram como as leis do Estados Unidos, segregavam os negros, que eram obrigados a frequentar instalações separadas dos brancos, como motéis, restaurantes, banheiros, entre outros, caso não seguissem a lei, poderiam sofrer humilhações físicas e psicológicas. 

Em 1936, visto os problemas das pessoas negras, de encontrar acomodação adequada em hotéis e pousadas onde seriam bem-vindos, Victor Hugo Green criou uma listagemmais abrangente possível, de todos os hotéis de primeira classe dos Estados Unidos que atendiam aos negros, coletou informações sobre hotéisrestaurantes e postos de gasolina para sua primeira edição do The Green Motorist Green Book (Livro Verde do Motorista Negro).  

Visto a situação acima, o diretor Peter Farrelly, resolveu fazer um filme sobre amizade, amor e superação de barreiras, baseado na história do músico Don Shirley e seu motorista Tony Lip.

Nos anos 60, com a lei de segregação racial fortemente presente nos Estados Unidos, o sofisticado musicista Don Shirley (Mahershala Ali), pretende iniciar uma turnê de oito semanas passando pelo extremo Sul do país, porém, “Doc” precisa de um motorista, mas também de um assistente e segurança, visto que por conta dos shows irá passar por lugares onde as pessoas negras não são bem aceitas. Tony Lip (Viggo Mortensen), um homem preconceituoso e grosseiro, que vive com sua mulher (Linda Cardellini) e dois filhos, se candidata a vaga de motorista, após a casa noturna, onde trabalha como segurança, ser fechada para reformas. Tony consegue o emprego e, com um Green Book em mãos, terá que lidar com as diferenças e seu preconceito para seguir nessa viagem.

Don Shirley / Mahershala Ali
Tony Lip / Viggo Mortensen

Green Book – O Guia é um enorme aprendizado para o público, com cenas que tocam o coração do espectador, o filme apresenta a realidade dos negros naquela época, com um foco no preconceito enraizado nas famílias americanas, sabendo apresentar a difícil experiência de se conviver com uma pessoa totalmente diferente, tudo isso é passado para as telas, de forma simples mas extraordinariamente bonita. 

A fotografia, juntamente com a direção, entregou cenas que me deixaram sem palavras, como por exemplo, uma cena em que Doc é forçado a sair do carro, e se depara de frente a um campo de plantio com pessoas negras, provavelmente escravas, trabalhando. O olhar das pessoas para Doc, é de questionamento, pois ele está bem vestido e está sendo conduzido por um homem branco, como seu motorista, é tão sútil e triste isso torna o filme inteligente em fazer situações imprevistas se tornarem reais e autenticas. 

Viggo Mortensen está incrível, no papel de Tony, o ator, inicia o filme com um ato preconceituoso, mas consegue transmitir o amadurecimento do personagem, mostrando uma pessoa que está lutando contra a intolerância. Fica claro na atuação de Mortensen, o sentimento de agonia ao ver Doc passar por situações desumanas e do tratamento discriminatório que o músico recebe ao longo da jornada. Já Mahershala Ali, que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, mostra seu poder de atuação, digna de Oscar, em um personagem solitário e contido, tendo que lidar com o preconceito diariamente, apesar de seu talento.  

Apesar da difícil e pesada temática do filme, a mensagem é passada de forma sutil, clara e tocante, mostrando o preconceito que os negros sofreram, e sofrem ainda hoje. O enredo faz uso de piadas inteligente e que conseguem manter o sorriso no rosto do público.  

Green Book: O Guia trata de uma temática bastante utilizada nos cinemas, mas fugindo dos clichês, o filme é umaroad trip deliciosa de ser ver. Com atuações excepcionais, é um prazer ver os protagonistas, tão diferentes, se tornarem grandes amigos, e juntos aprenderem um com o outro. As cenas, que mexem com o sentimento do público, são bem gravadas e conseguem transmitir a mensagem do filme de forma sutil e forte ao mesmo tempo. Green Book se equilibra entre o drama e a comédia, trazendo uma bela adaptação para as telas do cinema. 

Patrick Gonçalves
Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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