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Crítica | Dor e Glória (Dolor y gloria) 2019

“O amor talvez mova montanhas. Mas não basta para salvar a pessoa que ama.” Essa frase tenta resumir um dos monólogos mais sentimentais e forte que eu já assisti. Dor e Glória, novo filme de Pedro Almodóvar é um filme terapêutico e pessoal, que com sua simplicidade e autenticidade se torna uma das melhores obras do cineasta. Aqui, o diretor e roteirista nos transporta para uma grande viagem por suas memórias e sentimentos, de forma emocionante e autêntica.

Dor e Glória vai acompanhar Salvador Mallo (Antonio Banderas), um melancólico cineasta em declínio que se vê obrigado a pensar sobre as escolhas que fez na vida quando seu passado retorna. Assim, o cineasta relembra sua vida e carreira desde sua infância na década de 1960, na cidade de Valência, quando era um menino doce e inteligente, passando pelo seu processo de imigração para a Espanha, seu primeiro desejo, sua relação com a escrita, o cinema e sua paixão adulta na Madrid dos anos 80.

Alguns cineastas estão acostumados a chegar em um certo momento da vida e priorizarem autobiografias, pois é quase que impossível uma história não ser construída por meio de algum acontecimento pessoal ou aprendizado. Com isso, apesar de Almodóvar ter negado que o filme é autobiográfico, rumores afirmam que Dor e Glória é baseado na vida do diretor, e algumas características como a fisionomia do ator escolhido, a sexualidade e o cinema como tema, estão aí para comprovar.

O roteiro, escrito pelo próprio diretor, é um percurso gostoso e melancólico sobre o conjunto de recordações e descobertas do personagem. Aqui, a história está bem redonda e controlada, o que pode causar estranheza no público que está acostumado com as intensas obras de Almodóvar. A narrativa é construída entre passado e presente, o que traz a necessidade de se apresentarem flashbacks, utilizados de forma fluída, sem atrapalhar o desenvolvimento da trama. Dor e Glória pode ter criado um enredo simples e sem muitas reviravoltas, mas não deixa de lado seu poder em fazer o público ver seu passado e refletir em como lidar com as lembranças.

Pode ser dito que esse é um dos melhores e mais diferentes filmes de Almódovar, aqui o visual caminha próximo a simplicidade do roteiro, fazendo com que as cores fortes e os absurdos familiarizados nas obras do diretor, não estejam tão presentes. Em Dor e Glória, é usado em predominância de um tom vermelho, que muitas das vezes é colocado em contraste com o branco e azul, mostrando que o cineasta não consegue abandonar suas raízes. Os enquadramentos são formados por planos fechado, dando valor as intensas atuações. Outro destaque é o design de produção, que usa os objetos do apartamento e os figurinos para trazer a extravagancia de Alamódovar.

Antonio banderias, indicado ao Oscar por sua atuação no filme, está espetacular. Seu personagem precisa lidar com muitas emoções, e Bandeiras consegue transpassar sua solidão e seu ressentimento de forma expressiva, sem precisar de diálogos fortes ou impactantes. Quero destacar uma cena, em que seu personagem reencontra um amor do passado, e apesar de não ser uma conversa intensa, o ator de repente começa a lacrimejar, e nós somos carregados na imensidão de sentimento de seu personagem, apenas com seu olhar. Penelope Cruz, vive a mão do jovem Salvador, e coloca em tela uma personagem forte e guerreira, que faz de tudo para dar o melhor para o seu filho.

Enfim, Dor e Glória é um filme artístico, mas não é deprimente. É um processo agudo de reconciliação com as pessoas e com o passado, em uma viagem franca e honesta pela vida do personagem Salvador. É impossível não dizer que Pedro Almodóvar projeta na obra seu passado, criando um filme carregado de emoções e mensagens sobre o passado e presente. Esse filme vai fazer qualquer um ter uma releitura de como relembrar o passado, e ao mesmo tempo seguir em frente.

 

 

 

 

 

 

Patrick Gonçalves
Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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