Um jovem, uma professora e muito suspense, rodeiam o filme Volume Morto.
A jovem professora de inglês, Thamara (Fernanda Vasconcellos) tenta solucionar o estranho caso de Gustavo, um menino de 7 anos apelidado como Volume Morto que não emite som. Para tentar entender o que acontece com o seu aluno a professora marca uma reunião com os pais da criança Interpretados por Júlia Rabello (Luíza) e Daniel Infantini (Roberto).
O filme “Volume Morto”, de Kauê Telloli, tem 1h16m de duração e é todo filmado em apenas uma locação, com um elenco de quatro atores.
A narrativa é envolta por uma violência palpável e agonizante.
O ambiente se mostra osti e brinca com a ideia de diversos assuntos delicados, deixando sempre a entender mas sem nunca entregar uma resposta definitiva.
A inquietação psicológica se dá através da trilha sonora tensa, bem encaixada em tomadas com planos fechados, algo recorrente. A fotografia possui tons mais gelados, combinados com uma iluminação fúnebre e a direção de arte que aplica tons quentes em determinados momentos. Dessa forma, as cenas são competentes em inserir o espectador na confusão psicológica dos personagens, uma mistura de angústia, ansiedade, inquietação e raiva.
O filme tem uma narrativa intrigante e misteriosa que te envolve desde o começo
Esse é um longa com um desenvolvimento bem elaborado e entrega sentimentos complexos para o público, sua ideia em ser um quebra cabeça funciona até certo ponto, mas ainda deixa faltar informações para o público, que finaliza o filme frustrado com várias pontas soltas e nenhuma resposta ou pista de onde deveria chegar.
A ideia de subjetividade é algo complexo de ser compreendido e trabalhado, quando se decide trabalhar nesse campo de compreensão alguns cuidados devem ser tomados, a informação para que o público chegue a alguma conclusão ou discuta o final do filme tem que ser dada no decorrer da narrativa, algo que acontece de maneira falha em “Volume Morto”.
O telespectador chega no final do filme sem uma resposta e sem um caminho para seguir, estando em mãos com algumas possibilidades, sendo elas, abuso infantil, violência doméstica, fora a violência sofrida pela professora e em momento algum solucionado de forma satisfatória.
Segundo o diretor, era exatamente esse o propósito, de que cada expectador entendesse o que aconteceu de acordo com suas próprias experiências. E está aí a primeira polêmica do filme.
Ao se trabalhar com temas tão problemático quanto os que o filme se propõe, temos que ter um certo cuidado para que uma mensagem errada não seja passada. Exemplo disso é o filme sugerir em diversos momentos que o menino poderia ser vítima de abusos, acaba por encerrar a história com uma cena que oferece a interpretação de que este estava, o tempo todo, “jogando” com seus tutores. O assunto do abuso infantil, de qualquer natureza que seja, é sério demais para ser tratado sem nenhum cuidado e de maneira irresponsável, ao trazer como resposta uma manipulação da suposta vítima através de uma mentira. E o filme nos apresenta uma forte sugestão nesse caminho.
Outra cena, no mínimo problemática, é apresentada em uma sequência de violência contra uma mulher. Na cena, Roberto (Daniel Infantini) agride verbalmente a professora com um termo pejorativo que carrega em si uma uma grande carga social. Ela cospe na cara do homem e este a agride a enforcando, onde a personagem tenta se defender com mordidas.
As escolhas do diretor para retratar estas ações também abrem um precedente para o descaso com a agressão retratada.
O longo fica, como já mencionado, aberto a diversas interpretações: mas dentro do peso das temáticas tratadas, e, principalmente, como foram tratadas, abre um enorme precedente para críticas. O filme foi efetivo em seu propósito de gerar discussões e reflexões, mas não só pelo seu trabalho e sim pelo que deu errado. Aversão parece ter ser exatamente o sentimento gerado no público que irá assistir, sobretudo nas mulheres presentes.
O diretor mostra um grande potencial em seu trabalho, o filme vale as horas assistidas, principalmente por fazer parte da nossa cultura, a qual sofre muito nos tempos atuais, apoiar a arte não significa pensar e criticar o que se assiste, mas sim ir de mente aberta e entender que nossas ações vão além. Aos cineastas, a reflexão de como abordar assuntos que não envolvam vivências pessoais precisam ser mais estudados e elaborados.
Dia 20/08 (quinta-feira) o filme Volume morto estará disponível para o público em drive-in.
Texto: Stefany Gomes
Sou professora e fiquei muito angustiada e esperando uma punição… que não veio.