O diretor Alex Garland chega com Men, um filme repleto de conceito, que me fez ficar maravilhado pela bela performance da Jessie Buckley, e pela excelente fotografia, mas diferente do ótimo Ex-Maquina que trouxe uma ótima mensagem sobre o que é ser humano, esse novo filme não entregou o necessário.
Men basicamente é um filme sobre misoginia, que está cheio de alegorias sobre masculinidade tóxica, e também sobre como os homens veem as mulheres. Mas ao mesmo tempo ele tenta ser um filme sobre culpa, e como a culpa pode te perseguir, mesmo que você não seja a pessoa culpada. Já já você entende tudo isso que eu falei.
Na trama conhecemos a Harper uma mulher que viu seu marido, James (Paapa Essiedu), se suicidar depois de uma discussão. A história dessa morte do James é contada aos poucos durante o filme, mas basicamente a Harper queria o divorcio depois de 1 ano casada, e em um ato melodramático e ridículo, o James fala que se suicidaria. Um pouco depois ele bate na Harper, e ela o expulsa, dizendo que não se importa se ele vive ou morre. Em seguida ele cai de cima do prédio, e podemos cogitar que ele se matou. Essa morte dele foi realmente chocante, o corpo no chão foi muito bem feito, o tornozelo quebrado, a cabeça perfurada, a mão em uma grande pontuda. O departamento de efeitos práticos tá de parabéns.
Depois desse trauma causado por um relacionamento nada saudável, a Harper aluga uma cabana na floresta da Inglaterra pra descansar. Logo na chega dela já notamos um simbolismo quando ela pega uma maça e morde metade dela. Isso faz uma alusão ao Adão e Eva quando Eva comeu o fruto proibido no Jardim do Éden. O Geoffrey até fala que ela não deveria ter comido o Fruto proibido.
Depois desse começo lento, as coisas começam a sair do controle quando um homem nu aparece no quintal da Harper, e aos poucos mais coisas estranhas começam a acontecer nas redondezas, e vários outros homens começam a aparecer pra atormentar essa mulher, e todos são perfeitamente interpretados por Rory Kinnear.
Todas as interações de Harper com os homens servem como uma extensão do tema de que as mulheres são culpadas pelos pecados dos homens. Vemos um garoto chamado Samuel usando uma máscara assustadora de mulher e ele pede pra Harper brincar de esconde-esconde com ele, e quando ela diz não, ele chama ela de “vadia”.
Isso remete que homens tratarem as mulheres bem só quando convém, e quando elas não quererem fazer algo, que eles querem isso torna eles agressivos. Logo depois disso um padre repreende esse garoto e conversa com a Harper e nessa conversa ele diz pra ela que os maridos batem nas esposas, se referindo que “tá tudo bem…” sendo que não tá tudo bem.
O filme então vai continuando, e vemos o clímax, onde a Harper tá assustada com tudo que estava acontecendo, e ela ouve a janela da cozinha quebrar, e o Geoffrey aparece e vê um corvo com a asa quebrada, e a pata quebrada, e quebra o pescoço dele. Essa cena do pássaro, com a pata quebrada se refere ao tornozelo do James quebrada no mesmo ângulo.
Temos então uma sequencia frenética repleta de correria, com o Geoffrey se transformando no padre, no homem do bar, no policial, no Samuel, no cara nu. Todos a perseguem, e a Harper enfia uma faca no braço de um deles, e esse bicho puxa a faca até sair na mão. Essa cena foi horripilante, com o braço do homem divido em dois. Isso é semelhante ao braço do James.
Todos os homens até agora apresentam a harper como a responsável pela morte do James, mesmo ela não sendo. O padre representa à moralidade religiosa, o policia se refere a justiça que sempre falha. O homem nu representa o homem na sua forma pura, e sem uma roupagem que o escondem.
Porém a parte mais irreal do filme é o final bizarro, onde a Harper vê um dos homens com uma barriga enorme. Então uma vagina se abre, e ele dá à luz a si mesmo, e isso acontece inúmeras vezes, e um deles até sai de dentro da boca. Todos tem tornozelos quebrados, braços cortados. Enfim no final vemos o James aparecer, e a Harper pergunta o que ele quer, e ele diz “Seu amor”, e responde: “Sim”…
O filme acaba, com a amiga da Harper a Riley aparecendo na casa na manhã seguinte, enquanto a Harper olha pra uma folha, que parece a mesma que tava grudada na cabeça do Homem que tava pelado.
Esse filme tinha tanto pra entregar uma grande mensagem no final, mas ele entregou algo nada expressivo. O final deixou a entender que todos os homens são bebes irracionais, e que choramingão e fazem melodrama pra conseguir o que querem. Por isso todos sabem da vagina no desfecho. Já o James é um cara que não entende os desejos da Harper, e só foca em se auto satisfazer. Ele achava que queria o amor dela, mas na verdade ele tava tentando preencher o vazio que havia em sí mesmo, e com isso ele se tornava abusivo e controlador.
Entretanto mesmo com todas as suas metáforas sobre o gênero masculino, o filme generaliza todos os homens e esquece da sua mensagem. Sendo que ele ainda nem consegue desenvolver sua protagonista, que no final das contas é tão vazia, que tudo ao seu respeito só gira em torno do seu relacionamento com o James.
O filme é visualmente lindo, e tem performances fortes. Entretanto nada consegue se sobressair em cima do enredo enfadonho, que tenta falar algo, mas no final das conta não fala nada, a todo momento ele tenta criticar a misoginia e a gente entende isso, porém a mensagem nunca chega ao ponto de ser uma critica construtiva. O filme se enrola em sí mesmo e entrega um desfecho horrendo, cheio de nojeiras, e com muita ambiguidade.
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