Série

Crítica Jinn – 1ªTemporada (2019)

          Jinn é quase como um árabe Riverdale

 

Jinn é a primeira série original árabe da Netflix que estreou no catálogo dia 13. A série é uma mistura dos gêneros Fantasia, Horror e Drama, sobre adolescentes que encontram (jinnis) gênios do bem e do mal durante sua viagem escolar à antiga cidade de Petra.

O drama sobrenatural é uma boa e velha história de amadurecimento (com criaturas antigas envolvidas) que deve encontrar seu público facilmente. Embora a história de Jinn não ocorra nas Américas ou na Europa – como a maioria das séries da Netflix – a qualidade da produção está no mesmo patamar do que você esperaria de uma produção da Netflix. Tanto o som quanto a imagem são perfeitos e os efeitos funcionam muito bem também.

Elenco de Jinn-Netflix

Mas se você tirar a premissa, a primeira temporada de jinn parece simplesmente outro drama adolescente, sem muita inovação, que se recusa a se vender acima desse nível. Mesmo no IMDB, aborda a premissa como uma história de amadurecimento ainda com alguns elementos do sobrenatural. É quase como se eles desistissem antes mesmo de escrever o roteiro. Além disso, é muito claro que Jinn é muito precoce, e honestamente, isso parece desajeitado, mas também tenho a sensação de que também é necessário ter o público desde o início.

De muitas maneiras, jinn se sente e tenta ser um pouco como a versão árabe de séries teen, como Riverdale, e até mesmo Sabrina. Isso faz com que jinn pareça muito novo e bastante familiar.

A trama segue os alunos de um colégio que vão numa excursão conduzida pela professora Ola rumo a antiga cidade de Petra. Os personagens principais são Mira(Salma Malhas) que é a protagonista sensata-ou pelo menos tenta. Fahed(Yasser Al Hadi) é o namorado dela. Layla(Ban Halaweh) é sua melhor amiga. Nasser(Mohammed Hindieh), é o ex namorado de Layla. Tarek(Abdelrazzaq Jarkas) é o valentão, e Yassin(Sultan Alkhail) é o garoto magro que suporta as crueldades de Tarek. Hassan(Zaid Zoubi) é o tipo nerd que fala sobre os Jiins e como toda sua história, ou seja, é a parte didática, mas não faz com êxito.

Mira, aparentemente uma técnica em áudio, traz alguns instrumentos de gravação e ouve estranhos sussurros nas cavernas, e nós temos que assumir que não é apenas o vento. Enquanto isso, Yassin cai num buraco e, em vez de ajudá-lo, Tarek urina nele; intimidado Yassin conhece Vera logo depois de ser picado por um escorpião na tentativa de sair do buraco que caiu. Vera(Aysha Shahaltough), uma novata, ouve seus gritos e ajuda-o a sair. Tanto Yassin quanto Vera se juntam aos demais estudantes, no entanto, o garoto agredido, humilhado e com bastante ódio deseja profundamente a morte de Tareq.

À noite,sentados em volta de uma fogueira (com muita bebida e cigarro), Tareq despenca do alto da montanha e acaba morrendo de uma forma muito bizarra, gerando sentimentos de oposição na comunidade escolar. Sem saber, Yassin, convoca Vera, um Jinn malvado e egoísta, responsável pelos acidentes misteriosos. Enquanto Mira, também de forma inexplicável, convoca um outro Jinn, Keras(Hamzeh Okab), entidade bondosa e protetora. O estranho é que as possessões acontecem de forma inexplicável e sem o menor aviso prévio.

Netflix-Vera e Keras-jinn

Passamos a ver a partir daí uma relação quase instantânea entre Mira e Keras, não há o mínimo aprofundamento e não existe uma única razão para ela confiar nele, acreditar que é a escolhida e se tornar a sua parceira nessa jornada fantástica. Em certo ponto da trama passamos a nos interessar mais pelo desenvolvimento da relação entre Vera e Yassin que pela narrativa da protagonista, já que o rapaz vive em um lar desestruturado, com um padrasto abusivo e alcoólatra, envolto em agressões e dívidas nas mensalidades da escola. O pai de Mira é com certeza um dos melhores personagens da trama, compassivo, amável e preocupado com a filha.

O seriado foi produzido no Líbano e na Jordânia, e causou recentemente uma polêmica no país do Oriente Médio, já que o promotor tenta bani-la depois que os telespectadores a acusaram de apresentar uma imagem bem imoral do país e da religião e cultura. Daí  passamos a compreender que a série adolescente Jinn, muito aguardada pelo público árabe, apesar das liberdades criativas de seus roteiristas e produtores, sempre esteve atrelada a uma série de etiquetas filosóficas e sociais da região representada mesmo antes de ser concebida.

Foi exatamente nesse ponto que a série teen encontrou o seu maior obstáculo, já que antes mesmo da sua estreia já havia criado uma grande expectativa sobre a forma como certas questões sensíveis para o povo daquela região seriam abordadas no conteúdo apresentado nos seus cinco episódios. Apesar de ser considerado o país mais cosmopolita do mundo árabe, a Jordânia ainda baseia a sua cultura na religião e na tradição, por isso,  a escolha da temática abordada na série adolescente não agradou essa fatia da sociedade, muito menos a forma como seus adolescentes foram retratados, fazendo uso de bebidas alcoólicas, com um vocabulário baixo de muitos  palavrões, além de ter as mulheres representadas de uma forma bem mais hollywoodiana do que com sua própria cultura.

Netflix-Vera jinn

A série dá infinitas voltas em torno do mesmo tema sem ao menos tentar sair do lugar, tornando a experiência menos empolgante, sem reviravoltas e bastante superficial. Jinn não é envolvente o suficiente ao ponto de queremos ver o que irá acontecer com esses personagens um pouco mais adiante.

Percebi uma fragilidade e furos muito grande no roteiro, que é de uma pobreza narrativa absurda; e pesquisei e descobri uma inexperiência muito grande por parte do elenco e isso compromete a maior parte das cenas onde o drama precisa ser evidenciado; apesar da belíssima fotografia e da boa trilha sonora, os cortes e a montagem confusa de cena não ajudaram muito na condução da trama. Fora isso, o teor místico e sobrenatural se perdeu em meio a pouca profundidade dos personagens centrais, e sem muitos efeitos de qualidade, além de repetitivos.

Certas questões são tratadas como nada, já que iniciamos e terminamos a série da mesma maneira, sem respostas. Por exemplo, não conseguimos entender ao longo dos cinco episódios porque Mira é a escolhida e somente ele pode salvar o mundo do perigo em questão. Outro ponto que carece explicação é o fato de não recebermos nenhum background dos personagens nem mesmo da mitologia. Se ao menos a série tivesse nos mostrado um pouco da história pretérita dos Jinns ou tivesse nos mostrado a crença do povo árabe nessas criaturas sobrenaturais, talvez tudo fosse mais crível e realista.

A representação da entidade espiritual é outro ponto frágil desse roteiro, a população muçulmana acredita nesse tipo de entidade, eles creem que os Jinns habitam a terra mesmo antes da humanidade, seriam feitos de fogo, invisíveis aos nossos olhos, podem nos ouvir e serem ouvidos por nós e, igualmente a qualquer humano, podem ser bons ou maus. Daí, quando avaliamos a construção dos personagens Keras e Vera, dois Jinns antagônicos, percebemos que não sabemos nada sobre eles, nem mesmo de onde vieram, a forma como são convocados ou a forma como possuem os corpos humanos.

O elenco então é um pouco desesperador. Não é por ser uma série árabe não, muito pelo contrário. A ideia de ser árabe é excelente porque cria situações que fogem daquele velho padrão americano que todos conhecem e que já é “bem batido”-coisa que não acontece.

Essa ideologia é apenas uma parte emocionante de um show que, parece que a Netflix está apenas mergulhando um dedo em territórios desconhecidas. Com apenas cinco episódios, o bom e o mau dos Jinn são destilados para suas dosagens mais potentes.

Netflix- Elenco principal de jinn

Isso não quer dizer que a atuação ou os efeitos visuais são tão terríveis; a série árabe Netflix não oferece nada convincente ou grandioso, mas as performances não o reduzem a uma classificação ruim.

A Netflix anunciou recentemente a realização de outras duas produções originais do mundo árabe. Paranormal será a primeira série egípcia do streaming e está em fase de produção, e Escola Al Rawabi para garotas está sendo filmada na Jordânia, com equipe e elenco 100% feminino.

 

Cosme Nascimento

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Cosme Nascimento

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