Ficar preso em navio a deriva é desesperador, mas imagina ficar preso num navio a deriva com uma entidade sedenta por sangue. O filme ‘Drácula: A Última Viagem do Deméter‘, adapta um capítulo do clássico romance do “Drácula” do Bram Stoker, e temos aqui uma mistura de suspense com terror.
Hoje trago algumas entrevista com o elenco e o diretor do filme, para falar sobre ele.
Esse filme é ambientado no final do século XIX (19), e a trama se passa no Deméter um navio de carga que parte da Romênia pra Ingleterra com uma misteriosa carga composta por caixas. Em uma dessas caixas os tripulantes encontram uma jovem chamada Anna, e ela é a primeira parte do mistério desse filme, e a segunda parte é basicamente o Drácula que está em outra das caixas e a tripulação nem imagina que tem um vampiro a solta no navio, e quando eles descobrem as coisas vao de mal a pior.
Esse filme foi dirigido pelo André Øvredal, que me conquistou com o ótimo “A Autópsia”. Se você nunca viu assista. A atmosfera desse filme é maravilhosa, e acima de tudo ele conseguiu usar os efeitos práticos ao seu favor, e aqui em “A Última Viagem do Deméter”, não foi diferente, o André trouxe uma atmosfera sombria e opressiva, e entregou algumas cenas impressionantes.
Durante nossa entrevista exclusiva com o renomado diretor André Øvredal, exploramos os bastidores da produção de seu mais recente filme, onde ele compartilhou detalhes sobre as cenas mais desafiadoras e a abordagem única para retratar o icônico personagem Drácula.
“Qual foi a cena mais difícil de filmar?”, perguntamos. Com um sorriso, Øvredal nos levou até o coração da ação: “Lembro-me vividamente das filmagens no navio, enfrentando relâmpagos simulados e inundações de água, tudo enquanto lidávamos com a maquiagem de efeitos especiais. E não podemos esquecer do Drácula, interpretado brilhantemente por Javier Botet. Coordenar esses elementos complexos foi um verdadeiro desafio.”
Mas os desafios não pararam por aí. “O fator tempo também foi um grande obstáculo”, admitiu Øvredal. “Imagine filmar no meio da noite durante o verão, em um ambiente completamente maluco. Se o vento se intensificasse, tínhamos que pausar, desmontar as velas e equipamentos, e depois retomar. Isso adicionou uma camada extra de complexidade.”
Enquanto explorávamos o tema do Drácula a bordo do navio, Øvredal compartilhou sua visão criativa: “Visualizamos o Drácula como uma força que lentamente desmonta o navio, quase como uma presença demoníaca que ameaça a tripulação. Essa abordagem foi fortemente influenciada pela maneira como o capitão descreve suas experiências no diário de bordo, criando um medo palpável de uma entidade sobrenatural.”
O diretor também discutiu a emoção de transformar essa visão em realidade cinematográfica: “Uma das partes mais empolgantes para mim foi a oportunidade de criar um filme autêntico de terror. Onde o próprio Drácula é apresentado como um verdadeiro monstro. Essa abordagem genuína e assustadora resultou em algo verdadeiramente cativante.”
Ao longo da entrevista, ficou claro que André Øvredal abraçou os desafios e a oportunidade de revitalizar o mito do Drácula de uma maneira visceral e autêntica. Seu olhar criativo nos dá uma perspectiva fascinante sobre a construção de um filme de terror que não apenas homenageia o clássico personagem, mas também o reinventa para um público contemporâneo sedento por emoções intensas.
Por falar em efeitos práticos, temos aqui boas cenas de gore, e claro a caracterização do Drácula (Javier Botet), é uma das melhores coisas do filme, ele tava aterrorizante, graças a maquiagem e os efeitos visuais que contribuíram pra criar uma representação assustadora desse vampiro. No entanto, o Drácula só aparece de relance durante o filme. Eu acabei sentindo que a trama não consegue explorar plenamente esse personagem. Por conta disso perguntei pro Javier Botet como ele se conectou com o Drácula já que ele aparece mais nas sombras do que na tela, e ele disse:
“Em geral, ser o vilão é muito mais divertido”, compartilha Javier. “Sempre adorei me envolver com personagens maléficos. Como ator, isso me oferece mais liberdade para explorar extremos, vivenciar uma gama mais ampla de emoções. Geralmente, os vilões têm uma camada interna de sofrimento, uma história de vida que os levou ao lado sombrio. É como ter mais dimensões em um único papel. A complexidade é o que torna tudo emocionante para um ator.”
“O personagem principal, o herói, muitas vezes é mais direto”, observa Javier. “Portanto, interpretar Drácula, um dos vilões mais conhecidos, sempre foi fascinante. Todos nós temos nossa própria imagem de quem ele é, uma construção pessoal ao longo do tempo. Quando me foi dada a oportunidade, já tinha minha própria visão de Drácula. A abordagem exigiu um tempo concentrado para explorar detalhes, mas, em essência, eu já tinha uma compreensão dele.”
“Ele pode se desvanecer como névoa, voar como morcego, mudar de forma. É um personagem com uma versatilidade única. Essa característica lembra outros monstros, como Pennywise e Freddy Krueger, que transformam seus corpos para personificar o medo. No entanto, Drácula é mais antigo e traz essa essência clássica.”
“Explorar o que é pior para cada indivíduo é um fascínio”, Javier confessa. “E Drácula segue essa direção, assim como a água segue seu curso natural. Ele se adapta, assume várias formas. É uma fórmula que funciona bem, assim como vimos com outros ícones do terror. Drácula é uma expressão dessa dinâmica ancestral.”
Ao ouvir as palavras de Javier Botet, somos levados a uma jornada pelas motivações e complexidades de interpretar o lendário Drácula. Sua perspectiva única nos oferece um vislumbre das camadas ocultas de um vilão lendário e da satisfação que vem ao abraçar a escuridão em cena.
Já outros dois atores ótimos que temos aqui é o Corey Hawkins que vive nosso protagonista o Clemens, e a Aisling Franciosi que vive a Anna. Os dois tem uma ótima química e eles entregam performances sólidas dentro dos limites do roteiro. Entretanto seus personagens não ganham tanta profundidade e as vezes o filme se estende demais em outras subtramas que ficam deslocadas e não agregam na narrativa.
Porém mesmo que algumas coisas não ajudem o enredo do Clemens a caminhar. Ainda assim ele é um protagonista determinado, e o tadinho sofre a beça no filme, não só o personagem como o Corey Hawkins também. Perguntei pra ele e pro Javier Botet, se algo inesperado aconteceu nos bastidores que eles gostariam de compartilhar, e eles compartilharam ótimas situações.
“O filme é realmente incrível, e definitivamente assustador”, Corey compartilhou. “Mas também foi incrivelmente divertido de fazer. Muitas vezes, tínhamos momentos em que alguém simplesmente explodia em risadas mesmo no meio das cenas. Às vezes, alguém se atrapalhava antes de cortarem, e isso resultava em gargalhadas contagiantes.”
Corey também mencionou os momentos hilários nos bastidores: “Mal posso esperar para ver o filme e todos os erros de gravação. Tudo foi tão intenso, e de repente alguém esbarra em uma lâmpada e todos começam a rir. Lembro-me de Javier, o Drácula, sentado lá em seu traje, rindo junto.”
“Claro, tivemos nossos momentos malucos no set”, Corey riu. “Lembro-me de uma cena no final, onde Clemens enfrenta o Drácula com canhões de água jorrando. Andre estava me dirigindo com toda a intensidade, os canhões espirrando água por todos os lados. Eu estava tentando manter meu sotaque britânico e atuar com água aos meus pés, quando um canhão de água atingiu minha cabeça. Fui lançado para fora do quadro, e todos ficaram atônitos.”
“Houve também aqueles momentos em que as coisas não funcionavam como planejado”, Corey revelou. “A nave estava no gimbal, inclinava para um lado ou para o outro, e mesmo assim, continuávamos a filmar a cena. Foi divertido, apesar dos desafios.”
“Esteja preparado para os extras, porque definitivamente haverá muitos momentos hilários lá”, Corey concluiu. “Adoro agradecer por fazer parte deste projeto emocionante.”
“Em geral, eu me senti seguro”, reflete Javier. “Tínhamos uma equipe excelente, e as medidas de segurança eram robustas. No entanto, houve momentos, sim, em que enfrentamos desafios. Usar equipamentos de segurança, como arreios, era necessário, especialmente quando estávamos em alto-mar com ventos fortes e ondas agitadas. A tecnologia estava ao nosso lado, mas mesmo assim, a sensação de estar em um barco em meio à natureza era intensa.”
“Em certos momentos, quando estávamos todos no barco, eu via a equipe atrás de mim filmando, observava meus colegas atores, as ondas e o mar à frente”, descreve Javier. “Em meio a essa atmosfera, senti como se realmente estivéssemos no meio do mar durante uma noite tempestuosa. Era incrivelmente realista, e em alguns momentos, a sensação de pânico tomava conta. Eu me questionava internamente: ‘O que diabos estamos fazendo aqui?’ Era assustador.”
“Refletindo sobre os antigos navegadores”, continua Javier, “aqueles que enfrentaram os oceanos por meses a fio, percebi o quão corajosas essas pessoas precisavam ser. Enfrentar a força da natureza no mar, sentir a vulnerabilidade diante das ondas e dos elementos, é uma experiência poderosa. Você se sente frágil, à mercê do ambiente. É uma sensação única, e eu pensava: ‘Uau, isso é tão realista’.”
“Às vezes, a equipe nos dizia que as cenas estavam indo muito bem”, conclui Javier com um sorriso. “Era um reconhecimento reconfortante. No final do dia, estávamos lá para criar algo verdadeiro, e as adversidades que enfrentamos adicionaram um nível extra de autenticidade à produção.”
Através das palavras de Javier Botet, obtemos uma visão mais profunda dos desafios físicos e emocionais que ele e a equipe enfrentaram ao filmar em alto-mar. A experiência imersiva no set de filmagens se misturou com o respeito pelo poder da natureza, evocando reflexões sobre a coragem e tenacidade dos antigos navegadores.
“Drácula: A Última Viagem do Deméter” se mantem fiel a passagem do livro em certos aspectos, como o destino final do navio e da tripulação, e o clímax do filme é mega satisfatório, eu adorei a batalha final. Porém a história tenta se apoiar em cenas de susto e sequências gráficas para criar impacto. Mas a falta de uma construção eficaz de suspense e uma narrativa envolvente comprometem a experiência geral.
Então acaba que recebemos um filme que pode agradar alguns fãs da clássica história do vampiro. Entretanto o filme não reinventa o mito do Drácula. Ele só faz tudo que já foi feito antes. Ainda faz de uma maneira meio lenta e meio cansativa.
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