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Crítica | Ta Rindo De Quê? (2019)

Durante a Ditadura Militar de 1964, no Brasil, o governo instaurado fazia uso da censura para reprimir aqueles que não tinham o mesmo pensamento do governo ou que fazia piadas com o mesmo. O documentário Ta Rindo Do Quê? faz um recorte sobre o humor na ditadura, mostrando que mesmo com toda a brutalidade, truculência e obscurantismo inerentes ao regime da época, os humoristas usavam o humor como válvula de escape para a população, criando formas de driblar patrulhas e censuras, além de revolucionar a linguagem. No filme podemos ver que muitas das vezes o humor serviu como resistência, porém, alguns humoristas pagaram um alto preço por produzirem certos conteúdos. 

Com a direção do trio Claudio Manoel, Álvaro CamposAlê Braga, o documentário intercala as entrevistas com diversos humoristas, que contam suas histórias durante o regime militar, com algumas animações de cartuns e, com imagens e vídeos da época. No início do filme, com uma arte que antecipa a temida caneta vermelha, são exibidas imagens em preto e branco, mostrando a ambiguidade e a ebulição do povo entre os idealismos de direta e esquerda, imergindo o telespectador na triste época.   

Estudante caindo no chão, durante perseguição policial aos manifestantes na Avenida Rio Branco.

Juca ChavesDaniel FilhoAry ToledoBoniChico CarusoEliezer MottaBemvindo SequeiraAgildo RibeiroJaguarCarmen SiqueiraFafy SiqueiraCarlos Alberto de NóbregaRoberto Guilherme são alguns dos entrevistados. Um dos destaques entre os entrevistados é o Carlos Alberto, que não vê nenhum lado positivo na Ditadura, afirmando que a falta de liberdade é assassina. Refletindo a inquietação que os humoristas ficavam na época, muitos entrevistados contam seus relatos de terem o texto censurado, deixando o telespectador alienado a todos os acontecimentos da época. Uma das grandes características do Regime Militar foi a intervenção violenta aos artistas, na época, de maioria comunistas, os humoristas sofriam perseguições, prisões, entres outras violências, porém sempre ressurgiam com novas piadas e ganância pela liberdade. 

Outro pensamento da época também é mostrado no documentário pelo Roberto Guilherme, chamado de Sargento Pincel, ele defende que naquele período havia respeito e as pessoas podiam andar na rua com ouro que não seriam roubadas. Tal pensamento, individualista, mostra como a alienação era presenta na sociedade, fazendo as pessoas se importarem apenas com o bem estar pessoal, já o cotidiano dos outros não importava.  

Carlos Alberto de Nóbrega no documentário Ta Rindo De Quê?

Os diretores não apenas usam imagens para reconstruir a época durante a sessão, os vídeos usados são de veículos, programas de TV e propagandas, como por exemplo, a precursora revista Pif-paf, criada por Millôr Fernandes, passando pelo “Pasquim”, que se consagraram com a irreverência crítica com que trataram a política, e vai até o grupo teatral cômico e anárquico “Asdrúbal Trouxe o Trombone”. Programas de TV como o primeiro seriado brasileiro de sucesso “Família Trapo”, e os humorísticos de Chico Anysio, Jô Soares, Trapalhões também se destacam. 

O documentário aborda muitos assuntos, dois deles são o papel feminino no humorismo e a pornochanchadaFafy SiqueiraCarmem VerônicaAlcione Mazzeo e Regina Case discutem como a mulher eram estereotipadas durante os anos de chumbo. Para Fafy Siqueira as mulheres eram classificadas em: a gostosa ou a feia engraçada. Fafy também comenta sobre a importância da Dercy Gonçalves, que foi inspiração para o fim dos estereótipos sexuais. A pornochanchada também teve um grande peso entre 1975 e 1979, momento auge do movimento cinematográfico, que mostrava muito mais a realidade da ditadura do que o erotismo. 

Regina Casé no documentário Ta Rindo De Quê?

E então o documentário caminha para seus últimos momentos, mostrando que muitos sofreram um bloqueia criativo, devido a censura. Henfil (em entrevistas antigas), Caruso e Daniel Filho argumentam sobre a fiscalização e a revisão de seus trabalhos, alguns acham que isso ajudava na criação, já Henfil falava que a censura não tinha nenhum lado positivo. Ta Rindo Do Quê? Fala sobre um assunto importante para a história do Brasil e do mundo, fazendo um bom recorte de temas e de acervos da época. Para quem não está acostumado com documentários e linguagens da época, o documentário pode ser um pouco cansativo, mas para aqueles que amam história e um bom documentário, os 85 minutos de duração passam voando. 

Patrick Gonçalves

Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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Patrick Gonçalves

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