Nos nossos primeiros anos de vida, antes mesmo de aprendermos sobre a linguagem formal, nos familiarizamos com os sons e seus efeitos sobre nós. Nesse sentido, os momentos ricos em sonoridades que mostram o que está ocorrendo nas telas sem de fato termos que enxergar, transportam-nos para a viciante experiência sensorial e psicológica que é assistir “A Zona”, a nova série espanhola da HBO. O suspense policial ambientado em uma realidade na qual as sociedades foram atingidas, desmembradas e desestabilizadas por um desastre nuclear nos prende a um enredo arrebatador e memorável que provoca cuidadosamente e dosadamente a nossa tão intensa curiosidade.
Sendo assim, somos convidados a engajar com a produção a partir da apresentação do primeiro de uma série de assassinatos que passam a ocorrer na região. Com grande rapidez nos agarramos as brutais cenas apresentadas e seguimos junto ao protagonista, o inspetor de polícia Héctor Úria (Eduard Fernández), em busca do responsável e acima de tudo, do fator que impulsiona seus atos. E, com isso, para que a nossa imaginação exerça seu papel, o roteiro apoia-se a alternância entre esperança e apreensão, imergindo-nos em imagens e temas com tons escuros, que revelam o quão pouco sabe-se sobre o passado e presente da Zona. Portanto, o cenário principal acaba sendo cercado por uma negativa desinformação, atingindo o ponto em que os personagens não se interessam e nem se importam em deixar esse espaço.
Não é simples enxergar uma população doente e desinformada. Ainda mais quando descobre-se que Héctor Úria, apesar de habitar a cidade que existia antes do desastre nuclear, sobreviveu sem apresentar os sintomas que os demais apresentam. O que leva-nos a questionar seu possível envolvimento com a usina e sua própria honestidade, pois é claro que não foi apenas sorte. Peles estão desmanchando, cabelos caindo. E, Héctor, está intacto trabalhando. Suas falas revelam pouco, e ele torna-se intrigante diante de nossos olhos – pelo seu conturbado passado e nebuloso presente.
Há um véu nos impedindo de decifrar todos os mistérios de primeira, um véu que será removido aos poucos conforme a exibição semanal dos 8 episódios. Essa é uma trama fragmentada, que abusa da sonoridade como elemento estrutural e expressivo, acelerando e desacelerando respirações e corações. Não é uma produção aconselhada para um público mais sensível a violência explicita, mas é uma escolha ideal para os que flertam com mistérios policiais mais sangrentos.
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