O Mike Flanagan sempre teve uma visão peculiar pras suas produções, e eu amo a forma com que ele conta as histórias, ele entrelaça drama com terror, e dá um bom ritmo pros episódios, e até me frustra saber que tem gente reclamando de A Queda da Casa de Usher, uma série tão deliciosa de ser acompanhada que só leigos que não entendem de terror gótico reclamam dela.
Ao longo desses oito episódios dessa série vemos o Roderick Usher (Bruce Greenwood) explicando pro procurador Charles Auguste Dupin (Carl Lumbly). Como cada um de seus seis filhos morreu nas últimas duas semanas. Alías cada um dos filhos do Roderick, leva o nome de um personagem do Poe. Cada episódio aborda uma história famosa desse autor; e hoje to aqui pra falar sobre os Easter Eggs da série e como tudo aqui tem referencias a diversos contos do Edgar Allan Poe, e também a outras produções do Mike Flanagan.
Esse episódio tem muitas referencias ao conto “O Corvo”, tanto que o nome do episódio vem do primeiro verso deste poema. Notem também que o nome Verna (Carla Gugino) é um anagrama de “Raven que é corvo em ingles”, já a Lenore, sua querida neta, leva o nome do amor perdido do narrador desse poema do Corvo.
A vida pessoal do Poe também impactou na série, já que a mãe do Roderick e da Madeline se chama Eliza (Annabeth Gish) em homenagem à mãe do Poe, que morreu jovem de tuberculose e influenciou grande parte de seu trabalho. Já o William Longfellow (Robert Longstreet), o ex-CEO da Fortunato e pai biológico de Roderick e Madeline, recebeu o nome do poeta que Poe uma vez acusou de plágio . E, por último, o juiz John Neal (Nicholas Lea) leva o nome do proeminente crítico que foi fundamental para chamar a atenção para Poe.
Esse primeiro episódio teve muito da história original de A Queda da Casa de Usher, além do foco em dois gêmeos e o cenário da sua casa de infância. Mas Dupin desempenha um papel de narrador anônimo na história: e aqui ele está como ouvinte do seu velho amigo (e atual inimigo) Roderick.
O flashback da ressurreição da Eliza Usher (Annabeth Gish) durante a tempestade (após um enterro para evitar intervenção médica) também lembra muito o clímax da história original. Só que isso é feito com a Madeline, porém essa cena é uma referencia ao conto “O Barril de Amontillado”. Onde um homem é enterrado vivo, e ele tenta matar o Fortunato. Esse nome serviu de inspiração pro nome da empresa farmacêutica dos Ushers na série. Já no funeral dos Ushers o padre lê passagens de quatro obras diferentes do Poe “For Annie” / “Spirits of the Dead” / “The Premature Burial” / “The Imp of the Perverse”.
Já o nome do Froderick quer dizer Frederick (Henry Thomas), é uma referencia ao conto Metzengerstein, e o Rodrick sobre um jovem barão cruel. Por ele ser o “filho mais velho” ele abusa de seu poder depois de herdar a vasta riqueza de seu pai quando era um adolescente ingrato.
Ainda nesse episódio temos referencia ao filme Ouija do Mike na cena de flashback do quarto dos irmãos Usher, e também a aparição do Espelho do filme O Espelho, que está no fundo do bar da Verna.
Nesse episódio tivemos aqui uma versão moderna e criativa da história original que nomeia o episódio. Na trama o Próspero era um príncipe que organizou um baile de máscaras pra entreter 1.000 nobres em quarentena em uma abadia para se esconderem de uma praga mortal. Todos morreram pelo contato com a Morte Rubra – que entrou sorrateiramente usando uma máscara de caveira e um manto vermelho. Aqui na série tivemos um playboy fazendo uma festa na instalação abandonada da empresa do seu pai onde um lixo tóxico se tornou uma chuva ácida mortal. Vimos a Verna usando a máscara e o manto da Morte Rubra. Alías outra referencia ao Perry ocorre no episódio seguinte onde a Camille fala que vai pintar o Próspero como “o príncipe caído da América”, pra tentar apagar a má imagem que ele pode ter passado.
Nesse episódio também tivemos a fofissima “Annabel Lee” num flashback, onde o jovem Roderick (Zach Gilford) recita o último poema completo de Poe, que Roderick escreveu para sua esposa de mesmo nome no universo da história. A vida pessoal do Poe também ressoou aqui na série. Já que ele e sua esposa Virginia se casaram quando ele tinha 27 anos e ela 13, uma referencia foi usada pela relação do Rodrick com a Juno que é mais jovem.
Esse episódio podemos ver a mascara do filme Hush do Mike Flanagan, outra referencia que se encaixa perfeitamente bem como um easter egg.
A história original desse conto é uma ficção policial que apresentou o Dupin e seus dons e dedução. Só que aqui na série vemos um foco na Camille L’Espanaye (Kate Siegel), uma das duas vítimas da história original. Na qual ela e sua mãe são famosamente mortas por um orangotango em fuga. Aqui, ela morre atacada por um chimpanzé enquanto fuxicava no laboratório da sua irmã Victorine (T’Nia Miller) que faria experimentos com esses animais.
Temos outra adaptação do conto de mesmo nome, que tenta ser fiel: o gato preto do Napoleão (Rahul Kohli), chama Plutão assim como no conto, e o narrador anônimo arranca o olho enquanto está bêbado, acontece algo parecido na série. Mais tarde, ele mata esse gato e o substitui por um gato de aparência semelhante – apenas para o novo gato ficar preso nas paredes com a esposa que ele matou, levando a polícia a descobrir a verdade.
Não há assassinato de esposa na série, e o Leo morre em vez de ir preso. É basicamente a mesma história que trás um debate sobre os perigos do alcoolismo. E notem que o Leo não mata o gato, é tudo uma alucinação criada pela Verna, o gato aparece no final vivíssimo.
E nome Napoleão vem do conto “The Spectacles” que é uma histórias de comédia do Poe, enquanto nome do namorado do Leo, Julius, vem do conto “The Journal of Julius Rodman”.
Temos uma adaptação do conto de mesmo nome, onde o narrador anônimo mata um velho inocente e começa a sua culpa começa a se manifestar como um batimento cardíaco cada vez mais alto.
Aqui, temos a Victorine que trabalha em uma nova válvula cardíaca revolucionária, e ela acidentalmente mata sua namorada que ameaçava expor os registros falsificados dela e outros crimes. Após o assassinato, ela começa a ouvir um barulho por toda parte, e mais tarde no episódio esse barulho se revela a válvula cardíaca no peito da Alessandra, que está todo aberto. E logo depois a Vic se esfaqueia para substituir o coração para seu estudo é uma situação bem perturbada que finaliza o episódio.
O nome da Victorine vem do conto “The Premature Burial” que aborda o medo de ser enterrado vivo.
Esse episódio é baseado no conto de mesmo nome. Onde vemos a história de um homem excêntrico cuja descoberta de um inseto dourado parecido com um escaravelho o leva a uma caça ao tesouro. A história gira em grande parte em torno da criptografia e ajudou a popularizar os criptogramas. Mas não há nada disso na versão do programa, que apenas empresta o nome “Goldbug” para a empresa de bem-estar da Tamerlane.
Enquanto isso o nome da personagem “Tamerlane” (Samantha Sloyan) vem do poema desse nome, sobre um conquistador turco-mongol que escolheu o poder ao invés do amor, e parece que Tamerlane faz exatamente isso se afastando do seu parceiro o Bill-T (Matt Biedel).
Falando nisso, o marido de Tamerlane também é o protagonista do conto do Edgar, William Wilson sobre sósias. Mesmo que o Bill não tenha um sósia na série. A Tamerlane tem. No caso a Verna (que se passa por Candy), uma acompanhante que fica com o Bill. A Tamerlane pensa que ela está tentando roubar seu marido e assumir o controle de sua vida.
Ainda nesse episódio vemos o Roderick conversando com a Lenore e citando dois poema do Edgar, “A Dream Within a Dream ” / “ Eleonora ”, que falam sobre sonhar acordado com seus filhos mortos.
Agora chegou o momento de comentar sobre a história “A Narrativa de Arthur Gordon Pym”. O personagem aqui na série vivido pelo Mark Hamill já foi o protagonista de um romance do Edgar. Nesse episódio vemos a história do Pym na Expedição Transglobe. Uma versão da aventura apresentada no livro. Até o nome do navio baleeiro de Pym, o Grampus, é apresentado na série. Esse é o apelido que a Lenore dá pro seu avô.
Já o conto “O Poço e o Pêndulo” é referenciado nesse episódio enquanto a Morella (Crystal Balint) e a Lenore (Kyliegh Curran) assistem à adaptação dessa história de 1961. Ironicamente no episódio seguinte elas vivem essa história. Alías Jogo Perigoso do Mike Flanagan também aparece nesse momento que as duas assistem um filme.
Onde o narrador na história original fica trancado em uma cela escura durante a Inquisição Espanhola, esperando que um pêndulo afiado acima dele o alcançasse lentamente e o matasse. Ele consegue escapar a tempo, porém deliciosamente o Frederick não consegue escapar tão facilmente. A Verna faz essa tortura do pendulo pra tortura-lo, igual ele torturou a Morella. Essa tortura vem do conto violento Berenice onde o narrador arranca os lindos dentes de mulher com quem vai se casar, deixando-a viva. Alías aqui na série a Verna deixa claro que o Frederick seria dentista na outra versão da sua vida.
Já o conto “A Cidade no Mar” é recitado pela Verna, e esse conto trás uma história sobre uma cidade governada pela Morte. O nome da “Morella” vem do conto de mesmo nome, onde a protagonista e sua filha chamam Morella. Esse nome é atribuído a “grande morel”, o nome de uma erva-moura mortal, que é incorporada na série com aquela erva paralisante que o Frederick usa pra paralisar ela, e que condena ele a morte no final do episódio.
Esse final de temporada trás a morte da Lenore que encerra a linhagem dos Usher e o corvo visita o Roderick pra ve-lo sofrer por ela. O final da série mostra a Verna na lápide dos Ushers narrando partes do conto “Spirits of the Dead”. Ah, e a famosa palavra repetida no conto “The Raven” aparece aqui, onde vemos as mensagens por IA da Lenore repetindo “nunca mais”.
Enquanto “O Barril de Amontillado” aparece muito nesse final. Na história original, um assassino prende sua vítima nas catacumbas depois de atraí-la com a promessa de vinho amontillado. Ele fecha o espaço para que ninguém saiba que ele está lá. Roderick e Madeline fazem o mesmo com Rufus. Embora Madeline drogue ele com vinho amontillado e o seduza para levá-lo ao porão à prova de som. Esse final encerra os contos adaptados aqui na série.
O nome Fortunato também veio desse mesmo conto “O Barril de Amontilla”, e por falar nesse conto a IA da Madeline pra Lenore. É uma versão moderna da morte por sepultamento, que era uma ocorrência comum no trabalho de Poe. A ideia é que sua mente seja carregada em uma “nuvem”, como um banco de dados. Mas seu corpo se foi dessa realidade, e isso parecia algo que a Madeline acreditava muito.
Alías um fato interessante é que a Madeline nunca teve filhos por conta do tal pacto que ela e o irmão fizeram com a Verna. Ela e ele achavam que tudo não passava de um sonho. Porém no fundo ela sabia que era verdade e colocou um DIU, pra não ter que passar pelo sofrimento que o Rodrick passou vendo os filhos morrerem.
Enquanto a mumificação da Madeline com os olhos de safira que o Rodrick usa nela são inspirados no conto “Pequena Conversa com uma Múmia” quanto em “A Queda da Casa de Usher”, que também serve de base pro final da série. Com Madeline escapando de seu túmulo para se vingar de Roderick durante uma tempestade intensa que finalmente derruba a casa decrépita. Dupin consegue se entender bem, como o narrador anônimo, e recita as últimas linhas da história titular.
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