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45 Dias Sem Você | Entrevista exclusiva com o diretor e o elenco do filme nacional

Gravado na Inglaterra, França, Portugal, Argentina e Brasil, 45 Dias Sem Você acompanha Rafael, um jovem que espera 45 dias por um amor que não retorna. Para curar seu coração partido, decide exilar-se de si mesmo e parte para uma road trip rumo a três diferentes destinos. O longa é dividido em três capítulos, mostrando o protagonista conviver com amigos que, por motivos diversos, abandonaram o mundo em que viviam: Júlia na Inglaterra, Fábio em Portugal e Mayara na Argentina.

O drama romântico gay marca a estreia de Rafael Gomes na direção de um longa-metragem, o diretor é criador de séries de sucesso como “Tudo que é Sólido Pode Derreter” (Cultura) e ainda “3 Teresas” e “Vizinhos” (ambas para o GNT) e consagrado como diretor de teatro.

Os produtores do premiado longa-metragem “Hoje eu quero voltar sozinho” (Diana Almeida e Daniel Ribeiro) são os coprodutores de “45 dias sem você”, que tem no elenco Ícaro Silva (da novela Verão 90 e da série Coisa Mais Linda), Mayara Constantino (“Sessão de Terapia” e “Tudo o que É Sólido Pode Derreter”), o ator, diretor e dublador Fábio Lucindo (a voz brasileira do protagonista da série Pokémon), e os estreantes Rafael de Bona e Julia Correa.

Além disso, o filme passou por diversos festivais como, Cinema Diverse: The Palm Springs LGBTQ Film Festival 2018, OUTShine Film Festival 2018, San Antonio QFest – LGBT International Film Festival 2018, para a Mostra Competitiva de Longas-Metragens do Festival Mix Brasil (2018) e para o encerramento do Curta Santos 2018.

 

Confira abaixo, uma super entrevista exclusiva, feita com o diretor e o elenco de “45 dias sem você”:

Cinestera | Eu queria começar com uma pergunta pro Diretor (Rafael Gomes). Apesar de você ter um grande currículo teatral, e de curtas também, como foi essa experiencia de gravar seu primeiro longa-metragem, você se baseou em alguma história/acontecimento?

Rafael Gomes | Eu me baseei na vida dos atores, acima de tudo foi olhando para essas inconstâncias, de ter três amigos morando em lugares diferentes do mundo por motivos diferentes. Isso foi muito inspirador, no sentido de tudo o que ta compreendido nesse conjunto, principalmente o autoexílio, por que essas pessoas deixaram de habitar o mundo que habitavam para descobrir outros, ou se descobrir. Mas existe toda uma teia de sentimentos que estão envolvidos nisso, e para costurar essas três historias (que nada mais é a vida dos atores, como ponto de partido, depois existe uma elaboração da ficção), eu criei essa trama do coração partido de um personagem central que vai viajando, e claro que é baseado em experiências reais, porque todo mundo já teve um coração partido. E o filme teve um caráter de urgência muito grande, tinha que ser feito naquele momento, pois os atores iriam voltar pro Brasil em algum momento. Então, isso configuro uma produção muito pequena, com pouca gente na equipe, e que pudesse ter essa velocidade e essa dinâmica.

Cinestera | Eu fiquei encantado com a atuação de vocês. E eu queria saber de vocês como foi gravar o filme estando distante da equipe ou do restante do elenco?  Ou vocês gravaram as cenas juntas? 

Júlia Correa | Faz parte do mistério do processo, assim, eu não conhecia Coimbra, e sabia que o filme ia ter uma continuação, e depois que o filme passa por Londres, passa um furacão por você, e você ver o filme continuar sem você, é uma sensação estranha. O filme começa em Londres, e depois que partiu pra Coimbra, eu pensava “eu quero ir pra Coimbra agora, quero continuar gravando, não quero sair do filme”.

 

Fabio Lucindo | É um filme sobre muita intimidade, mas que a gente gravou muito distante do outro, a pessoa com que eu mais contracenava era o Rafael, que eu tenho muito intimidade, mas que enquanto singular, concreto, individuo, não. E isso também é interessante, como um filme pequeno, intimo e com uma equipe muito concisa, a maior parte do elenco se conheceu no dia da estréia, e no processo cinematográfico isso não faz muito sentido, cinema é pré, durante e pós.

 

Cinestera | Em “45 Dias Sem Você” todos os atores usam o próprio nome para o personagem e eles ainda moram de fato nos locais das locações, borrando os limites entre realidade e ficção. Qual foi a sua (Rafael Gomes) intenção? E como foi para vocês trabalharem assim? 

 

Rafael Gomes | O filme parte de realidade que são as deles, então não teve uma estratégia de fazerem eles usarem os mesmos nomes, eles estão fazendo versões ficcionais deles mesmos. E sim, nesse aspecto de borrar os limites entre realidade e ficção, não tem um macro pensamento por trás disso, mas eu tenho a sensação de que isso aproxima muito mais o filme do público, porque é um filme pequeno, de sentimento, de uma outra atenção, diferente de quem vai sentar pra vê uma comedia de romance tradicional, hollywoodiana. E tinha a intenção das pessoas verem o filme, como quem acompanha um álbum de viagens, então se você senta ali pra ver um filme como se você tivesse vendo um amigo contar sobre a viajem dele, essa sensação, de que é uma historia que um amigo ta te contando, é impulsionada pelo fato de todos serem si mesmos, nessa questão dos nomes.

Mayara Constantino | Foi muito legal trabalhar com essa questão, de interpretar nós mesmos, foi estranho, difícil, gostoso, um pouco de tudo. É um lugar delicado, mas que eu acho que a graça é essa, ficar tudo junto na mesma camada, e como atriz é tão desafiador quanto fazer um personagem que não esta distante de você no fim das contas. Mas é bonito, no fim, quando eles foram emboras, fica um sentimento de que você quer mais, é um pouco viciante misturar tudo.

Rafael de Bona / Mayara Constantino / Fábio Lucindo / Julia Correa / Rafael Gomes

Cinestera | O filme foi rodado em vários países, e possui captações de imagens linda. Como foi feito esse trabalho de filmagem? Vocês tiveram uma equipe apenas? 

Rafael Gomes | Uma pessoa fez toda a fotografia do filme. Para quem não sabe, em um set de filmagem “normal”, a equipe de fotografia tem pelo menos 15 pessoas, dividas em equipe de câmera, elétrica, maquinaria, entre outras funções. A Dhyana Mai, que foi a nossa heroína, ela fez tudo sozinha, então ela era um equipe de câmera inteira, e o combinado foi de que os equipamentos coubessem em um mochila para a gente levar de um lugar para o outro. E ela foi uma heroína, ao entrar nos lugares e ver qual a melhor luz, desatarraxar uma lâmpada, não tinha tripé, refletor, mas claro tinha as luzes lindas que Portugal, Argentina e Inglaterra oferecem. Mas é isso, a equipe de fotografia era só a Dhyana Mai, o Henrique Carvalhaes era o produtor e um monte de outras funções, e tinha eu, essa era a equipe da produção de filmagem, fora a equipe que viajou, por exemplo o técnico de som, que era contratado em cada local de filmagem.

Cinestera | E todos os atores são sensacionais, alguns estreando na área, no caso do Rafael e da Julia, como foi feita a seleção, como vocês se conheceram? 

Rafael Gomes | Isso parte da primeira resposta que eu te dei, quem vê o filme pode pensar que eu escolhi os atores, foi ao contrário, essas historias me escolheram, elas estavam ali. Nesse sentido, não teve um seleção desses personagens, eu já conhecia os três (Mayara/Fábio/Julia), quem foi de fato “selecionado”, dentro dessa lógica cinematográfica, foi o Rafael, o Rafa eu conhecia também de outros testes para trabalhos, então já admirava ele como ator. E esse filme pelas circunstância de tempo e produção, precisava de pessoas que com certeza estariam disponíveis em todos os sentidos, alma, espírito, vontade, e tempo para entrar nessa historia muito rápido.

Cinestera | O filme transborda sensibilidade, e os atores trazem isso para a tela com autenticidade. Como foi trabalhado essa interação, que é muito bem apresentada, entre vocês? 

Mayara Constantino | Foi na hora, a gente não se conhecia.

Rafael de Bona | Eu não conhecia nenhum deles, a única pessoa que eu conhecia era o Rafa (diretor), mas nessas circunstâncias de testes para elenco, então de fato fui conhece-lo quando a gente foi conversar sobre o filme, e embarcar para rodar o filme. Julia, Mayara e Fábio, foi na hora, e era uma semana para a gente gravar tudo, então foi muito intenso e demando muito entrega nossa. Mas foi maravilhoso, porque você consegue se aprofundar muito, eu saia de um país com saudades e já tinha que ir para outro, encontrar uma outra pessoa, outra abordagem, outra relação.

Fábio Lucindo | É muito louco isso, a gente não se conhecia, e ao mesmo tempo a gente criou uma amizade muito grande, foi do zero a cem muito rápido, e atualmente é isso, a gente se encontra para ver o filme, nas estreias, a gente tem uma baita historia, convivemos de fato em horas contadas, mas existiu uma intimidade que eu não tenho com pessoas que eu conheço a 4/5 anos.

Cinestera | Apesar de o personagem principal ser gay, “45 Dias Sem Você” não procura explorar esse fato, seus melhores amigos que ele revê nessa jornada são heterossexuais e isso não interfere em nada nessa amizade, a homossexualidade é tratada de forma muito singela e espontânea. O filme trabalha a diversidade muito bem, qual foi seu objetivo, isso foi planejado?

Rafael Gomes | No caso, a gente não problematizou a sexualidade, isso não foi um problema dramático. Aqui, sim existe claramente, deliberadamente uma estratégia que eu quis trabalhar com uma narrativa, uma ficção audiovisual, como eu já fiz no teatro, em que os personagens LGBTS, não só o homem gay, em que esses personagens que socialmente poderiam ser visto por uma determinada parcela da sociedade como fora da norma, fossem apresentados absolutamente dentro da norma. No sentido de que a sexualidade não faz a menor diferença, o envolvimento do filme é em outro aspecto, no envolvimento com o drama, no sofrimento, na paixão, e isso é a forma mais eficaz de fazer que a sexualidade não seja um problema para quem assiste. A pessoa senta para assisti o filme, seja quem for, da idade que for, e acompanha aquela história porque esta interessante (se tiver, a pessoa pode não gostar), e a hora que tem um beijo gay na tela, você pensa “nossa é verdade, ele é gay”, mas isso já deixou de ser importante, para quem esta vendo o filme.

Cinestera | Eu queria saber do Rafael, como foi gravar seu primeiro longa-metragem, passando por lugares tão diferentes, com cultural distintas? 

Rafael de Bona | Eu acho que foi a melhor experiência que eu poderia ter de estreia, porque foi filmado e concebido de uma forma tão bonita, afetiva, tão real, e essa historia é verdadeira, o filme tem esses trações reais e ficcionais, mas as histórias, as pessoas são verdadeiras, então embarcar nessa viagem por países diferentes, pessoas diferentes, e nas circunstâncias que a gente fez, isso da um caráter tão humano para obra, que pra mim foi uma experiência marcante que eu já mais poderia ter no cinema.

Julia Correa / Rafael de Bona / Mayara Constantino / Rafael Gomes / Fábio Lucindo

Cinestera | Agora, como em um momento do filme, em que Julia pede para o Rafael fazer uma lista das 10 coisas que ele mais quer, eu queria saber de vocês 1 coisa que cada um quer? 

Rafael Gomes | Eu vou falar uma que aparece no filme, mas que pra mim é verdade, eu adoraria tocar piano. Na realidade tem a ver com uma educação musical, como um todo, mas para mim se materializaria no piano.

Mayara Constantino | Eu queria ser cantora de axé, o Rafael falou do piano, e me veio a banda na cabeça.

Júlia Correa | Na minha lista, eu seria uma grande dançarina.

Rafael de Bona | Eu vou também por esse lado mais individualizado, eu acho que eu gostaria de falar fluentemente alemão.

Fabio Lucindo | Fazer uma continuação desse filme.

Cinestera | Vocês devem está sabendo dos cortes no audiovisual nacional, e da crise que o cinema nacional ta passando. Eu queria saber a opinião de vocês sobre a importância dos filmes independentes? E o que vocês diriam para alguém que quer seguir nesse ramo? 

Rafael Gomes | Esse filme foi feito com recursos financeiros próprios, e muitos recursos humanos, que colaboraram para que ele existisse. Tem uma coisa dos filmes feitos assim, sem amarra, quando eu digo sem amarras, é sem dever nada a ninguém, porque quando você faz um filme com recursos públicos, ou privado, você tem que entregar, você deve esse filme para alguém, que tem que aprovar. Pensando em filmes com recursos próprios, eu acho que tem uma coisa muito própria, que é poder correr o risco, justamente por que você não deve nada pra ninguém. O poder errar sem esse medo, é libertador. E eu acho que existe muito níveis de fazer um filme, da pra fazer um filme na sala de casa, só no seu bairro, como você quiser. Ao mesmo tempo, eu acho que não se deve fazer qualquer coisa, saiba muito bem o que você quer. Faz dois anos desde que a gente filmou, mais de dois anos desde que esse filme foi pensado, então o nível de energia e engajamento que é preciso, é grande. É difícil escolher o que querer, então entenda se essa sua inspiração, esse lugar para onde você vai voltar essa energia, ele é muito vivo dentro de você, queira muito, aí faça, porque eu acho que fazer é possível.

Mayara Constantino | E também é uma forma de resistir, sabendo que é um direito nosso, que a gente tem acesso a um edital público que financia um projeto cultural, isso é o mínimo que um país tem que ter. Mas sabendo disso, e também a margem disso, correr o risco, e também colocar a mão na massa, em paralelo ao que ta acontecendo, também é  uma forma de reivindicar, e dizer “ta bom, não ta acontecendo aqui, a gente vai tentar por aqui”. Porque eu sinto que é libertador, mas ao mesmo tempo a gente não pode deixar de exigir que a gente tenha essa opção.

Rafael Gomes | Funciona quase como um enfrentamento, de dizer “a gente ta fazendo assim, porque não tem como fazer de outro jeito”, mas tem que ter de fazer de outro jeito. É muito importante, na visão de quem assiste, buscar estar em contato e assistir essas obras independentes e nacionais, primeiro porque é a sua cultura, em um sentido mais imediato, é um espelho mais próximo que você vai ter. E é muito importante para gente, que esse filme esteja estreando nos cinemas e ao mesmo tempo nas plataformas digitais, porque no cinema é difícil competir com filmes grandes, de fato as pessoas em outras cidades, que não sejam das capitais, não vão poder vê o filme no cinema, então a partir do dia 16 de maio, em qualquer lugar do Brasil, com uma conexão a internet, em qualquer hora do dia, você pode assistir, isso é uma forma de tentar proliferar o acesso, de criar uma oferta irrestrita, porque também não adianta a gente ficar dizendo para as pessoas irem prestigiar o cinema nacional, a oferta precisa ta na mesa.

Cinestera | E por fim, o filme trata do amor não correspondido, e da jornada de Rafael para curar seu coração partido, partindo para três diferentes destinos. Para vocês, qual a melhor forma de curar um coração partido, um amor não correspondido?

Rafael Gomes | E eu diria para a pessoa sofrer mesmo! Sofrer é muito importante, porque essa instância de tentar afastar o sofrimento, ela não cura, é uma metabolização, como virar vinho, destilar. A dor tem que doer, minha vó dizia que era como mastigar o chiclete ate perder o gosto, agora como, é tudo isso que eles falaram.

Júlia Correa | E aceitar que na vida vão ter momento doloridos e eles passam também.

Fabio Lucindo | Tem uma frase que é repetida no filme algumas vezes, que eu não vou falar agora, porque é spoiler.

Mayara Constantino | Comer um doce, ir ao cinema, e uma livraria, fazer um date com você mesmo. E ter um animal de estimação ajuda também.

Rafael de Bona | Se tem uma coisa que o filme ensina é se aproximar de quem você ama, dos verdadeiros amigos, porque de alguma forma a experiência deles pode ressignificar a sua.

Cinestera | E qual o futuro do filme, eu soube que será uma trilogia. Quais são os futuros projetos?

Rafael Gomes | É uma trilogia informal, no sentido de que não é uma continuação de história. Mas tematicamente é uma trilogia que eu chamo de Corações Sentimentais, porque é sobre amores de jovens adultos, muito sobre a maneira de estar no mundo, de lidar com sentimentos, e sobre a arte, a música. O próximo filme é Musica para Cortar os Pulsos, um drama romântico que a Mayara faz, como uma das protagonistas, o Fábio faz uma participação, vai ser lançado nesse ano, no segundo semestre. O terceiro filme se chama Meu Álbum de Amores, é um musical, com musicas originais do Odair José e Arnaldo Antunes, a Mayara, o Rafael e a Julia fazem uma participação. E só pra contar que esta tudo conectado, não é só o tema, as pessoas e equipes se repetem, nossa heroína Dhyana Mai, retorna, agora com uma equipe de filmagem. Os filmes já estão filmados, e estão em fazes diferentes de finalização.


 

O filme tem produção da Substância Filmes & Outras Misturas, coprodução da Lacuna Filmes, e distribuição nos cinemas e plataformas digitais é da O2 Play.

45 Dias Sem Você já está em cartaz nos cinemas brasileiros, além disso, você pode assistir o filme nas seguinte plataformas de stremings, iTunes, Google Play, Vivo Play, NOW e Looke.

Patrick Gonçalves

Carioca, estudante de comunicação, apaixonado por séries e filmes, coleciono DVD's e ingressos de cinema.

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Patrick Gonçalves

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